Desde há mais de trinta anos que eu tenho um hábito parecido com o do Kant.
Sim, com o do Kant. Custa-me imenso admiti-lo e ainda mais escrever sobre o assunto.
Mas a revelação é tão importante para os argumentos que a seguir tenho para desenvolver, que me rendi à necessidade.
É o seguinte:
Desde há mais de trinta anos que, a seguir ao jantar, faço uma caminhada que tem sempre o mesmo percurso. São cerca de três quilómetros e meio, que me demoram cerca de 45 minutos a percorrer. Todos os dias, qualquer que seja o estado do tempo.
Pelas minhas contas, só nestas caminhadas nocturnas, já andei quase quarenta mil quilómetros, que é a distância de uma volta à Terra em torno do Equador.
O Kant também tinha uma hábito semelhante. Mas existem, pelo menos três, diferenças.
A primeira é que ele caminhava ao fim da tarde e eu caminho à noite.
A segunda é que as pessoas acertavam os relógios à passagem dele, e não o fazem à minha.
A terceira é a mais difícil de explicar. E é a mais decisiva de todas. É uma diferença que, estou certo, fez de mim um homem radicalmente diferente do Kant, a despeito da igualdade do hábito..
Hesito em expô-la, com medo das consequências e por não estar certo de ter ainda apreendido o seu pleno significado.
Mas, enfim, lá vai. É o que tem de ser.
A terceira diferença é a seguinte:
O Kant ia sozinho e eu vou com a minha mulher.
4 comentários:
:-)
"A segunda é que as pessoas acertavam os relógios à passagem dele, e não o fazem à minha."
:)
E como esses há muita gente com muitos hábitos, uns iguais outros diferentes.
Isso não quer dizer nada.
Eh! Eh!
Pedro Arroja, a terceira diferença indica que V. tem pelos menos uma vantagem: É mentalmente são.
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