27 março 2017

O Kant ia sozinho

Desde há mais de trinta anos que eu tenho um hábito parecido com o do Kant.

Sim, com o do Kant. Custa-me imenso admiti-lo e ainda mais escrever sobre o assunto.

Mas a revelação é tão importante para os argumentos que a seguir tenho para desenvolver, que me rendi à necessidade.

É o seguinte:

Desde há mais de trinta anos que, a seguir ao jantar, faço uma caminhada que tem sempre o mesmo percurso. São cerca de três quilómetros e meio, que me demoram cerca de 45 minutos a percorrer. Todos os dias, qualquer que seja o estado do tempo.

Pelas minhas contas, só nestas caminhadas nocturnas, já andei quase quarenta mil quilómetros, que é a distância de uma volta à Terra em torno do Equador.

O Kant também tinha uma hábito semelhante. Mas existem, pelo menos três, diferenças.

A primeira é que ele caminhava ao fim da tarde e eu caminho à noite.

A segunda é que as pessoas acertavam os relógios à passagem dele, e não o fazem à minha.

A terceira é a mais difícil de explicar. E é a mais decisiva de todas. É uma diferença que, estou certo, fez de mim um homem radicalmente diferente do Kant, a despeito da igualdade do hábito..

Hesito em expô-la, com medo das consequências e por não estar certo de ter ainda apreendido o seu pleno significado.

Mas, enfim, lá vai. É o que tem de ser.

A terceira diferença é a seguinte:

O Kant ia sozinho e eu vou com a minha mulher.


4 comentários:

José Lopes da Silva disse...

:-)

Anónimo disse...

"A segunda é que as pessoas acertavam os relógios à passagem dele, e não o fazem à minha."

:)

Pedro Sá disse...

E como esses há muita gente com muitos hábitos, uns iguais outros diferentes.

Isso não quer dizer nada.

Anónimo disse...

Eh! Eh!
Pedro Arroja, a terceira diferença indica que V. tem pelos menos uma vantagem: É mentalmente são.