27 março 2017

capitalismo

O Hayek foi um dos maiores intelectuais do capitalismo durante o último século. Infelizmente, como ele próprio admitiu, morreu sem saber quem criou os valores (propriedade privada, contrato, etc.) que tornaram o capitalismo possível.

Eu não quero morrer como o Hayek. E já cheguei à resposta. Foi Deus. E esses valores foram sempre cultivados pela Igreja Católica, com algumas excepções que são referidas adiante.

Quanto à questão que o rui a. levanta aqui, que é a de saber se a Igreja aceita ou não o capitalismo, a resposta é mais óbvia porque está no Catecismo (art. 2425) - é Sim com reservas:

2425. A Igreja rejeitou as ideologias totalitárias e ateias, associadas, nos tempos modernos, ao «comunismo» ou ao «socialismo». Por outro lado, recusou, na prática do «capitalismo», o individualismo e o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano (167). Regular a economia só pela planificação centralizada perverte a base dos laços sociais: regulá-la só pela lei do mercado é faltar à justiça social, «porque há numerosas necessidades humanas que não podem ser satisfeitas pelo mercado» (168). É necessário preconizar uma regulação racional do mercado e das iniciativas económicas, segundo uma justa hierarquia dos valores e tendo em vista o bem comum.

As reservas são compreensíveis. A primeira diz respeito ao individualismo (calvinista) que subjaz ao capitalismo. A Igreja defende uma visão comunitária da sociedade, correspondendo aos apelos de Cristo de que somos todos irmãos, todos filhos do mesmo Pai. Não pode, portanto, subscrever o individualismo ("cada um por si") que destrói a comunidade.

Quanto às regras do mercado. A Igreja não pode subscrever que sejam leis (de mercado ou jurídicas) a governar a sociedade. A ideia de uma sociedade governada por leis - seja o Estado de Direito dos socialistas sejam as leis de mercado capitalistas - é judaísmo puro, que o protestantismo imitou.

Acima das leis, o Cristianismo veio pôr as pessoas, na figura paradigmática de Cristo. As leis estão ao serviço das pessoas, e não o inverso. São pessoas, e não as leis, que devem constituir a autoridade suprema de uma sociedade humana.

A propósito, uma observação. Já se vê no elenco de afastamentos em relação à doutrina católica introduzidos pelo 25 de Abril, que eu vinha a fazer, que uma das razões para a situação actual em que Portugal se encontra foi a substituição da autoridade pessoalizada que era típica do Estado Novo por essa concepção abstracta e destruidora que é  o "Estado de Direito Democrático" .

Eu sei que os juristas detestam ouvir isto. Mas tem de ser porque é  a Verdade.

5 comentários:

Anónimo disse...

É verdade

Ricciardi disse...

"eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus" disse Lutero ao Papa e acrescentou "sempre melhor ver com nossos próprios olhos do que com os olhos de outras pessoas".
.
Rb

Pedro Sá disse...

Toda essa tese culmina necessariamente na defesa da arbitrariedade e na ausência de segurança jurídica. E sabemos como a ausência de segurança jurídica dinamita a prosperidade.

Claro que muito antes de haver IC já havia propriedade privada. E contratos. Apareceram sabe-se lá como. E a prática provou que funcionam melhor que outras alternativas.

A propriedade capitalista e o Senhor disse...

O Arroja até é capaz de ter razão: se Deus é o Senhor então a propriedade privada (em si mesma, como "diriam" certos filósofos) só pode ter sido criada por ele. Mas o Arroja está a esquecer-se de uma coisa fundamental: O Senhor não criou apenas propriedade de animais ou de terras, também criou a propriedade de escravos. E por isso é o Senhor, e não o Empresário ou o Capitalista.
E é verdade que somos todos filhos do mesmo Pai, o que significa que somos todos filhos do mesmo Chefe de família (que etimologicamente significa "conjunto dos escravos"). Realmente, a Igreja só podia mesmo rejeitar o socialismo e também o capitalismo, porque o sistema económico correspondente à sua mundovisão é o esclavagismo romano.

Vivendi disse...

E o homem da providência?

"A propriedade dos bens de gozo é exigência da natureza do homem, mas a dos bens produtivos, para sua exploração individual ou por intermédio do trabalho alheio, é antes uma vocação ou, se se quiser, uma competência. Todas as reformas que desconheçam esta realidade e pressuponham em todo o homem capacidade para dirigir o trabalho e administrar a riqueza encaminham-se ao fracasso económico e social."

"A família exige por si mesma duas outras instituições: a propriedade privada e a herança."

António Oliveira Salazar