28 fevereiro 2017

os publicistas

Eu sempre considerei muito curioso aquele livro do Sampaio Bruno que tem o título "Os Modernos Publicistas Portugueses". Era um daqueles anúncios, perfeitamente à portuguesa, a informar o mundo, que nós cá também temos disso. Tinha chegado com algum atraso, mas finalmente tinha chegado, porque a um país de cultura católica acaba por chegar tudo - caso contrário ele deixa de ser católico.

E o que é que tinha chegado?

Os jornalistas.

A invenção da imprensa  - uma invenção protestante - e a propagação da chamada imprensa livre foi uma arma poderosíssima contra a Igreja Católica, e contra os países de cultura católica, pelo que o anúncio de Sampaio Bruno estava destinado a trazer mais destruição a Portugal. E trouxe.

Os primeiros publicistas portugueses, homens como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins eram todos profundamente anti-católicos, e profundamente críticos das tradições portuguesas, embora todos acabassem a viver no conforto delas - uma das mais confortáveis sendo a de viverem à custa do Estado.

Foi também por essa altura que Antero produziu o célebre e devastador opúsculo sobre as causas da decadência dos povos peninsulares que, na prática, se resumiam a uma só - a Igreja Católica -, sem nunca lhe ter ocorrido atribuir também a Igreja a causa do esplendor desses mesmos povos uns séculos antes.

Eu já fui um admirador da tese de Antero, mais tarde, talvez de forma independente, retomada por Max Weber. Hoje, considero-a falsa. A Igreja não foi a causa da decadência de Portugal. A Igreja e Portugal decaíram simultaneamente, feridos, quase de morte, pelo mesmo cerrado ataque que tinha tido origem no norte da Europa, e que os publicistas portugueses apenas contribuíram para agravar, agora a partir de dentro.

Se eu pudesse escolher uma imagem para o que então se passava nos finais do século XIX seria a de um ringue de boxe, onde um dos boxeurs - a Igreja Católica (e o seu espelho, Portugal) -, tinha sido tão batido pelo adversário, tinha tantos golpes e feridas, cambaleava tanto pelo ringue e mal se tinha nas pernas, que toda a assistência esperava, a todo o momento, que ele caísse redondo no chão e fosse declarado vencido por KO.

Este boxeur não estava em condições de liderar coisa nenhuma, na realidade, não faltava na assistência quem previsse com certeza que ele perderia o combate e que provavelmente até iria morrer. Dizer que este boxeur estava agora quase a morrer pelas mesmas razões que antes o mantiveram vivo e vigoroso - a doutrina católica -  era uma contradição.

O boxeur estava agora quase a morrer pela força e a violência dos golpes que o oponente lhe desferiu e alguns eram golpes baixos. E vinham todos de publicistas, como Voltaire, só mais tarde também dos da casa.

O milagre é que o boxeur não morreu, nem sequer caiu ao chão. E, curiosamente,  tem-se vindo lenta mas firmemente a recompor, ao ponto de haver já quem  preveja que ele acabará por ganhar o combate. E na casa do adversário.

O feitiço voltou-se contra o feiticeiro. Agora são os publicistas que estão sob ataque, num país que se vai tornando crescentemente católico, e pela mão de um homem, que pela idade e pela autoridade, tem cada vez mais semelhanças com um Papa - um Papa belicoso, é certo, como tantos da tradição católica, mas ainda assim, um Papa.

3 comentários:

marina disse...

não tem nada a haver , mas este senhor explica bem os meninos da mãmã do PA.

http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017-02-26-Antonio-Coimbra-de-Matos-Nao-e-facil-amar-mas-e-bom.-E-se-nao-se-amar-nao-se-vive

José** disse...

Prof.
Este texto é de parabéns.

Pedro Sá disse...

A Igreja não é a causa nem do esplendor nem da decadência do País.

Nenhuma religião poderia ser causa de uma coisa nem de outra em país nenhum, aliás.