18 janeiro 2017

a razão e a fé

The four requirements just listed - that whatever is not scientifically proven, or is not fully understood, or lacks a fully specified purpose, or has some known effects, is unreasonable - are particularly suited to constructivist rationalism and to socialist thought.
(The Fatal Conceit, p. 66)

Neste parágrafo Hayek, ao final e como balanço de uma vida dedicada ao pensamento, elencou os quatro critérios da racionalidade, a saber, é racional aquilo que:

(i) se pode provar cientificamente; ou
(ii) é perfeitamente compreensível; ou
(iii) tem um fim perfeitamente especificado; ou
(iv) tem efeitos conhecidos.

Depois, afirma:

Not only the traditional tenets of religion, such as the belief in God, and much traditional morality concerning sex and the family (matters with which I am not concerned in this book) fail to meet these requirements, but also the specific moral traditions that do concern me here, such as private property, saving, exchange, honesty, truthfulness, contract.
(ibid., pp. 66,67)

Todas estas tradições não passam os critérios da racionalidade. Por isso, segundo os construtivistas e os socialistas, elas podem ser descartadas.

Segundo Hayek, não podem, ainda que não consigamos provar a sua racionalidade. São condições sine qua non da sobrevivência da civilização.

Ele reconhece à religião o papel de guardiã destas tradições, mas não sendo ele próprio um homem religioso (é agnóstico) não se sente capaz de entrar nesse domínio - na realidade, já não tem tempo nem energia para o fazer quando chega a esta conclusão. É o domínio da religião e, portanto, da fé.

O Papa Bento XVI fez da reconciliação entre a razão e a fé o principal tema da sua obra teológica. Segundo ele, a fé é um acto racional, é o último e o supremo acto da razão.

Onde termina o caminho de Hayek é exactamente onde começa o de Bento XVI. É certo que Hayek deixa a porta aberta ao caminho que Bento XVI trilhou, mas só o faz no final da sua vida.

Nasceram muito próximo um do outro, a cerca de 300 Km e 28 anos de distância. Partilhavam muitas conclusões, mesmo sem se conhecerem, como a importância das tradições referidas acima para sustentar a civilização.

Havia certamente uma questão que os dividia. Hayek considerava que Deus não era importante e excluía-o do domínio da racionalidade. Pelo contrário, Bento XVI considera que a fé em Deus é a mais racional de todas as crenças.

Que caminhos diferentes seguiram estes dois homens para chegar a esta diferença?


8 comentários:

zazie disse...

Um era kantiano e fala exclusivamente da Razão iluminista- a da Ciência o outro vai atrás e entende a Razão que vinha da noção de logos .

zazie disse...

Os liberais ou se ficam pelo empirismo básico ou refugiam-se no apriorismo kantiano.

Pedro Sá disse...

Er...a propriedade privada não é uma tradição MORAL.

De resto, compreender o pensamento de Ratzinger não é tarefa fácil. Mas...não será ele kantiano? Considerar a fé (e também, em bom rigor, a sua ausência) o último e supremo acto da razão não será, afinal, admitir que há uma série de assuntos que não são atingíveis pela razão?

marina disse...

não é tradição moral , é tradição animal... experimenta por um dedo numa colmeia , ir ao covil dum leão ou invadir o território dum animal qualquer mis forte do que tu :)

zazie disse...

Pedro Sá-
Eu respondi a isso. A noção de razão é que é diferente nele. Recupera o Logos, não será kantiano porque Kant adopta a noção de Razão iluminista- a da Ciência

zazie disse...

aqui uma explicação

Houve um gigantesco debate aqui no PC a este propósito.

Anónimo disse...

Ainda bem que Pedro Arroja voltou a publicar. São as pedras no charco.
Obrigado

Ricciardi disse...

Eu pensava que a fé era uma coisa em que se acreditava sem necessidade de recorrer à razão.
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E sempre vivi no pecado da inveja para com aqueles que tinham fé sem necessidade de prova.
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Qual São Tomé, sem ver custava-me a crer.
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Eis que nos aparecesse alguém a dizer que se pode chegar à fé pela razão. La Palisse não diria melhor. Chegar à verdade através da razão é precisamente aquilo que a ciência faz.
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A fé porém não é o caminho da razão. Ela existe ou não independentemente das provas.
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Eu sei que até os Papas tem crises de fé. O actual até já confessou que atravessou um período desses. E eu compreendo isso. Quando Bento xvi se debruçou sobre essa temática também devia estar num período desses.
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Há porém muito religioso que interiormente vive continuamente com grandes dúvidas de fe. Alguns até se mortificam a ver se disciplinam o corpobe a mente a crer naquilo que duvidam.
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E funciona, ao que dizem. A perspectiva de sofrer mais sevícias mortificante transforma qualquer ateu num deísta convicto.
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Rb