02 janeiro 2017

em vias de extinção

A irritação dos políticos com o populismo reflecte uma realidade mais profunda - a irrelevância crescente dos políticos, a política como profissão em vias de extinção.

A democracia-partidária tradicional vive de partidos que oferecem à população pacotes diferenciados de governação do país. Estes pacotes são levados à população através dos políticos e dos jornalistas. A população, depois, escolhe entre estes pacotes e os políticos que se propõem pô-los em prática,  no dia das eleições.

É este par de intermediários - políticos e jornalistas - que as novas tecnologias de comunicação estão a tornar dispensáveis. Donald Trump fez abundante uso delas nos EUA com o sucesso que se conhece. E o Movimento 5 Estrelas em Itália, que será provavelmente o próximo governo do país, ainda mais e de forma mais elaborada. O seu fundador, Beppe Grillo recusa ser político,  e faz questão de continuar a ganhar a vida na sua profissão de comediante.

Uma plataforma informática, e em actualização permanente,  onde sejam pedidas às pessoas as suas respostas sobre as questões da governação, por exemplo:

-Deve o país permanecer no Euro?  (Sim/Não)
-Deve o orçamento da saúde ser aumentado? (Sim/Não),

tornará os políticos meros executores da vontade popular e a democracia representativa dará lugar a uma democracia referendária.

Será também o fim dos partidos e das ideologias.

(Escusado será dizer que os políticos vão colocar toda a espécie de entraves à criação de uma tal plataforma. Pôr o cidadão a pagar impostos através da internet foi fácil; pô-lo a pronunciar-se sobre as directivas da governação vai ser muito mais difícil)

PS. Este jornal está claramente em vias de extinção. O mesmo opinion maker escreve lá a metro. Na última semana, escreveu quatro artigos. Não me querem lá a mim para servir de contraponto? Faço de graça.


8 comentários:

Euro2cent disse...

> Faço de graça

Isso é muito caro.

E depois, para quê? Quer dar-lhes bóias para continuarem a estrebuchar?


Unknown disse...

Nem mais.
E repare que o imbecilide já começou a escrever sobre a "troupe" de que faz parte ." vigaristas".

Rui Alves disse...

"A democracia-partidária tradicional vive de partidos que oferecem à população pacotes diferenciados de governação do país.

Não, os pacotes são iguais, eu diria antes que oferecem pacotes iguais com embalagens diferentes.

lusitânea disse...

Quanto mais se queixam dos populistas mais eles aumentam...porque segundo a teoria marxista eles devem "resistir".À mudança evidentemente!

marina disse...

não conheço bem como é na Suíça , mas um suíço disse-me que não havia lá políticos profissionais e que quase tudo se resolve em referendos. se o sistema funciona bem assim não se percebe pq ainda não foi copiado nas tradicionais " democracias corruptivas "...

Ricciardi disse...

Os referendos só incomodam aqueles que se incomodam que o povo possa ter uma opinião.

Isto da plebe poder decidir assuntos reservados às aristocracias é um problema. Os suíços que o digam. Referendam tudo e mais alguma coisa. Consequentemente são o país mais miserável do mundo. E pobre.
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Na América também assim é. Muitos estados tomam para si decisões importantes. Referendam tudo. Até o xerife da vila é sujeito a votação. Impostos são referendados. Há estados que isentam de IRC as empresas. Há estados que isentam de IRS. Há estados que isentam de IVA ou IMI. Sim, é a plebe que decide estas coisadas.
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Escolhem mal?
Paciência, escolhem para os próprios. Quem melhor para decidir o melhor caminho do que aqueles que o trilham?
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Já nos sovietes, as elites gostam de se substituir à plebe. Nunca vi um referendo num país desses. Nos sovietes e nos facismos de direita. Todos eles acabam na miséria. Ou pela soberba.
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Rb

Ricciardi disse...

Agora, vejamos, vamos provocar os neurônios daqueles que apreciam as ditaduras.
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Façamos uma analogia:
Numa empresa quem escolhe a administração são os accionistas. Cabe à administração gerir aquilo que os accionistas criaram. Decisões estratégicas ficam fora do âmbito de decisão da administração.
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Agora imaginemos que, em vez de serem os accionistas a escolher a administração, eram os seguranças a faze-lo. As autocracias procedem deste modo. São os militares que escolhem os gestores.
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Em democracia é o povo, como quem diz: os accionistas, que escolhem os gestores. Como nas empresas. E em questões importantes e estratégicas devem ser consultados também, como nas empresas.
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As autocracias podem funcionar bem. É apenas uma questão de sorte. Pode-se ter a sorte dos militares escolherem bons gestores. Como nas empresas pode calhar nas sortes os seguranças acertarem em bons administradores.
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Um regime que se baseia na sorte não vale um vintém.
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As monarquias contornaram este problema através da educação do sucessor. A este é facultado os melhores tutores do reino. Não depende das sortes, portanto.
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Rb

Ricciardi disse...

O caso paradigmático mais à mão de exemplificar é o português.
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Salazar foi nomeado pelos militares para gerir os destinos do país. Acertaram numa pessoa capaz. Pelo menos capaz durante algum tempo. Eu diria que Salazar foi capaz por uns 15 anos. O que não é nada mau. A partir daí passou de solução para ser parte do problema. Não haveria problema algum se os accionistas genuínos, o povo pois claro, tivessem podido remover o problema. Tinham poupado 10 anos de guerra infame ultramarina e, muito provavelmente, 700 mil portugueses não teriam perdido todos os seus bens além mares.
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Em suma, Deus concedeu-nos sorte na escolha dos militares. Mas o diabo, que nunca dorme, corrompeu o regime.
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Foi mesmo a terceira causa de grande desgraça nacional. A primeira foi a expulsão dos judeus e mouros no séc XIV, fonte do conhecimento e riqueza. A segunda, a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, fonte da educação. A terceira, a guerra ultramarina e posterior expulsao dos territórios, fonte de matérias primas, destino de exportações. A quarta é mais recente e deve-se à entrada do país na zona euro, abdicando de autonomia financeira e monetária.
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Rb