A verdade na administração pública
(...) A falta de coincidência entre as instituições [públicas] e os seus fins, entre a aparência dos preceitos e a sua realidade profunda, entre as leis e a sua execução, faz da vida administrativa do país uma mentira colossal.
Se temos um vencimento e ao lado a acumulação ou o cofre dos emolumentos, temos a mentira dos ordenados.
Se temos um número de funcionários para um trabalho e parte deles desligados do serviço, porque aguardam uma aposentação que não chega mais, temos a mentira dos quadros.
Se o funcionário tem outra vida que não só a de funcionário, e não entra à hora que deve, e não trabalha com zelo durante o tempo de serviço, e as faltas não são nunca averiguadas, nem julgadas, nem rapidamente punidas, temos a mentira disciplinar.
Se temos fixado um período para pagamento das dívidas, e esse período é sucessivamente prorrogado, temos a mentira dos prazos.
Se temos um orçamento equilibrado, mas as receitas foram avaliadas em mais e as despesas foram artificialmente reduzidas abaixo do que hão-de ser, temos a mentira das previsões.
Se trazemos despesas públicas por fora do orçamento, e outras as iludimos e as pagamos por operações de tesouraria, arranjamos equilíbrios ou saldos, mas temos a mentira das contas.
Se nas indústrias do Estado não contabilizamos os vencimentos que saem das despesas gerais do Tesouro, nem os juros do capital que lhes foi cedido, nem os impostos que deviam pagar e não pagam, temos mentiras de contabilidade e sobre elas a mentira do Estado industrial.
Se o Exército não evita ou não castiga a desordem, se as escolas não ensinam, se os tribunais não fazem boa averiguação dos factos e recta aplicação da lei, temos a mentira da força pública, a mentira da instrução, a mentira da justiça.
E de todas estas mentiras, acumuladas, multiplicadas, enredadas umas nas outras, vêm todas as deficiências de que o País sofre e que há absoluta necessidade de suprir.
A política de verdade impõe-nos a modificação radical de tal estado de coisas.
(Autor não-citável, 1929)
Se o funcionário tem outra vida que não só a de funcionário, e não entra à hora que deve, e não trabalha com zelo durante o tempo de serviço, e as faltas não são nunca averiguadas, nem julgadas, nem rapidamente punidas, temos a mentira disciplinar.
Se temos fixado um período para pagamento das dívidas, e esse período é sucessivamente prorrogado, temos a mentira dos prazos.
Se temos um orçamento equilibrado, mas as receitas foram avaliadas em mais e as despesas foram artificialmente reduzidas abaixo do que hão-de ser, temos a mentira das previsões.
Se trazemos despesas públicas por fora do orçamento, e outras as iludimos e as pagamos por operações de tesouraria, arranjamos equilíbrios ou saldos, mas temos a mentira das contas.
Se nas indústrias do Estado não contabilizamos os vencimentos que saem das despesas gerais do Tesouro, nem os juros do capital que lhes foi cedido, nem os impostos que deviam pagar e não pagam, temos mentiras de contabilidade e sobre elas a mentira do Estado industrial.
Se o Exército não evita ou não castiga a desordem, se as escolas não ensinam, se os tribunais não fazem boa averiguação dos factos e recta aplicação da lei, temos a mentira da força pública, a mentira da instrução, a mentira da justiça.
E de todas estas mentiras, acumuladas, multiplicadas, enredadas umas nas outras, vêm todas as deficiências de que o País sofre e que há absoluta necessidade de suprir.
A política de verdade impõe-nos a modificação radical de tal estado de coisas.
(Autor não-citável, 1929)
5 comentários:
Quando o regime se pauta pela eleição dos melhores publicitários, a mentira torna-se norma.
"Quelle surprise!", com dizem na Guiné (-Conakry, antigamente).
Caro Professor Arroja
Vai esconder aos leitores quem foi o autor do texto? Olhe que eu conheço, e apetece-me falazar o que sei.
:-)
Exatamente. Tenho a convicção que foi o prof. Salazar o autor do texto.
A forma, o estilo têm tudo a ver com ele. Não há que ter vergonha de o citar. Ele foi dos maiores entre os maiores. E é quase como a Bíblia : premonitório,actual e acertivo.
cicrano
foi um homem fantástico .conseguiu dominar completamente os instintos , ninguém o manipulava.
Estimado Pedro Arroja
Se vais citar um texto meu, ao menos põe-lhe o meu nome por baixo. Porque se escondes o autor, mas já toda a gente sabe de quem é, temos a mentira do anonimato.
AOS
Enviar um comentário