03 novembro 2016

secularização

O tema da secularização na entrevista:

-¿Es el precursor entonces del proceso de secularización que vendría después? -Sin duda. Y es el fundador de la gnosis. Da una fuerza enorme a la gnosis. De él viene el concepto de libertad moderna. Él entendía la libertad como libertad de Roma; los ilustrados, de la razón; la Revolución Francesa, de Dios; la revolución comunista de Dios y del poder; y la ideología de género, del cuerpo. Es él el que comenzó con este proceso, al destruir los vínculos comunitarios.

A secularização é a ausência de Deus do espaço público. Para a Igreja Católica, a religião é um tema público, que se pode falar em público e praticar em público - Cristo, ele próprio, pregou em público.

Mas, a partir de Lutero, Deus e a religião são remetidos para a esfera privada - por assim dizer, numa expressão feliz, suponho que do Papa Bento XVI, "Deus foi metido num armário" - e falar de Deus em público torna-se o maior de todos os pecados sociais, a última coisa que um verdadeiro cidadão deve fazer.

Porquê?

Porque o "Deus" de Lutero se torna a maior fonte de dissensão e conflito social que é possível imaginar.

Falar directamente com Deus sem o controlo de uma doutrina que permita aferir se os resultados dessa conversa estão em harmonia com a vontade e a verdade de Deus, permite a cada um pôr na boca de Deus aquilo que muito bem lhe aprouver. É assim que fazem os talibans, matam em nome de Deus e porque Deus lhes disse.

Mas não apenas isso. Torna-se impossível entre quaisquer duas ou mais pessoas chegar a acordo acerca de qualquer assunto da vida social.

É natural que, nas suas conversas com "Deus", as pessoas se ponham as mesmas questões, pelo menos em parte - por exemplo, como julgar o merceeiro da esquina. 

Mas como essas conversas não podem senão reflectir a experiência individual de cada uma, com as suas limitações,  enviesamentos e preconceitos, quando se encontram para discutir o assunto, a conclusão que uma tirou acerca do merceeiro na sua conversa com Deus é diferente da conclusão que a outra tirou, e diferente ainda da conclusão tirada por uma terceira.

Uma pessoa concluiu que o merceeiro é um vigarista, a outra (que por acaso é filha do merceeiro) concluiu que o merceeiro é o melhor homem do mundo e uma terceira considera o merceeiro um homem assim-assim, com as suas virtudes e também os seus defeitos.

Sobre o mesmo assunto, este "Deus" diz a cada pessoa uma coisa diferente, e frequentemente diz coisas opostas. Este "Deus" não serve para nada, excepto para gerar a discórdia. É melhor não falar em Deus quando se tiverem de discutir assuntos públicos, como o do merceeiro da esquina.

O processo de secularização fica em marcha. Mas não apenas a secularização.

Para que é que me interessa um "Deus" que, sobre o mesmo assunto diz uma coisa a uma pessoa e coisa diferente a outra? Este "Deus" só serve para gerar a discórdia entre as pessoas e pô-las umas contra as outras. Este "Deus" é o Diabo.

O caminho para o agnosticismo e o ateísmo, em massa, ficaram também abertos por Lutero.


1 comentário:

Pedro Sá disse...

Conclusão a contrario: "Não posso ter opinião porque qualquer julgamento seja sobre o que for tem que ser feito pela confissão religiosa que o representa".

A seguir ninguém pode tirar conclusão nenhuma sobre nada. Nem pensar, consequentemente.