10 novembro 2016

o caminho e o destino

Na cultura americana de origem calvinista ninguém pode meter-se no caminho que o menino escolheu para chegar ao seu destino (Deus).

E quem poderia lá meter-se e servir-lhe de obstáculo?

Em princípio, qualquer pessoa.

Porém, uma pessoa não seria um obstáculo intransponível. O menino pode removê-lo do caminho, nem que seja, em última instância, sob a ameaça de uma arma.

O verdadeiro obstáculo, o obstáculo verdadeiramente intransponível, aquele que o menino nunca conseguirá remover, caso ele decida colocar-se-lhe no caminho, é o poder político - o poder do Estado -, porque, obviamente, mesmo armado, o menino nada conseguirá contra a força da polícia ou do exército.

Daí a preocupação dos pais fundadores americanos em tirar o Estado da vida das pessoas e reduzir a sua influência ao mínimo na sociedade.

É esta a concepção de liberdade na cultura anglo-saxónica, cada menino percorre o caminho sozinho até ao seu destino (Deus). Este é um caminho aberto e livre, e esta concepção é acompanhada de um Estado mínimo.

Na cultura germânica de influência luterana é diferente. Ninguém sabe qual é o destino (Deus). A questão do destino (Deus) é, para cada um, uma questão de pura fé e que não pode ser objecto de discussão racional (Kant).

É à "comunidade" que compete definir o destino (Deus), e este é igual para todos e, portanto, o caminho também. O destino é definido por via política, pelo Estado.

(Observação. Nesta cultura não faz mais sentido falar em comunidade porque ninguém se entende acerca de um destino comum. Sociedade é um termo mais adequado)

Daqui decorre a concepção de liberdade nesta cultura (que hoje paira sobre Portugal como uma nuvem densa). Um homem é livre quando se entrega nas mãos da sociedade, representada pelo Estado porque o Estado é a luz que indica o destino e alumia o caminho.

Na cultura anglo-saxónica (calvinista) o menino percorre o caminho sozinho até ao seu destino final. Na cultura germânica (luterana) percorre-o juntamente com os outros, sob a  direcção do poder político.

E como será na cultura católica?

Veja o próximo post.

Neste, apenas gostaria de acrescentar a seguinte questão: como será visto na cultura germânica (luterana) um homem que se recusa a seguir juntamente com os outros, pelo mesmo caminho, até ao destino final, sob a direcção do poder político?

É um louco, um outcast extravagante e louco, e mais ainda, um inimigo da liberdade. Todos os outros devem atirar-se a ele, denunciando-o por aquilo que ele é - um louco e um tirano.

Foi esta a figura que Trump fez nos media. (Em Portugal - que tem tudo aquilo que há no mundo -, também há quem a faça, mas não é altura para falar em nomes).

1 comentário:

Pedro Sá disse...

Essa tese cai totalmente pela base quando sabemos que tudo quanto é "politicamente correcto" vem normalmente dos Estados Unidos e do Reino Unido, pelo menos num primeiro momento.

E é aí que por sistema que se quer mais que em outro lado impor tais coisas por via legal.