E, na cultura católica, como o é que o menino percorre o caminho em direcção ao seu destino (Deus)?
Percorre-o acompanhado. Acompanhado pela Mãe. Nos primeiros anos de vida, enquanto criança, pela mãe no mais literal sentido da palavra - a mãe biológica. Mais tarde, quando adulto, pela mãe de todos - a Santa Madre Igreja.
O problema com a concepção anglo-saxónica da liberdade é o de que, quando os caminhos de dois meninos diferentes se cruzam, qual deles vai prevalecer? A resposta é o do mais forte ou do mais apto para lidar com a situação. A lei do mais forte, ou do mais apto, vai prevalecer. Não surpreende que o darwinismo em geral, e o darwinismo social em particular, tenha surgido nesta cultura.
É nestas situações de conflito que, na cultura católica, intervém a Mãe, que acompanha sempre cada um dos seus meninos. Quando o mais velho arrebata os brinquedos dos irmãos mais novos, e fica com todos para si, a Mãe intervém e corrige-lhe o caminho. "O teu caminho não pode passar por aí. Devolve os brinquedos aos teus irmãos, e brinca com os teus".
É que a Mãe tem uma concepção de Bem que é diferente da do seu menino mais velho. Ela quer igualmente Bem a todos os seus filhos, enquanto o menino mais velho quer o Bem apenas para si. A concepção da Mãe é a do Bem-comum, ao passo que a dele é a do bem individual ou egoísta.
A concepção dela é que vai prevalecer, e é a solução racional ao conflito. A Razão identifica-se com o Bem-comum, e não com o bem individual do filho mais velho ou de qualquer outro.
A Mãe, desejando o Bem para todos os seus filhos, rejeita também o caminho igual para todos que lhe é proposto pela cultura germânica ou luterana. Como assim, se uns são rapazes e outros raparigas, se um gosta é de futebol e outro aprecia mas é as artes, enquanto um outro quer é ser padre. Que sentido faria, e que liberdade haveria, em torná-los a todos artistas?
Mais tarde, quando o menino cresceu e a Mãe morreu, está lá outra para a substituír - a Igreja (cujo significado estrito é o de comunidade, ekklesia).
No caso de o caminho de um homem se cruzar com o de outro, qual deles vai prevalecer e qual é o critério? É o critério do bem de todos, o critério do Bem-comum, que é também o critério da Igreja.Este critério está fundado na Tradição, que é aquilo que a história da humanidade consagrou como sendo o Bem para todos, e não apenas para algum ou alguns.
Na cultura católica, o destino (Deus) é comum e o mesmo para todos, os caminhos para lá chegar é que são diferentes. Cada um percorre o seu caminho acompanhado da Mãe (que representa a comunidade e transporta consigo o critério do Bem-comum, fundado na Tradição).
Cada um é livre de escolher o seu caminho, desde que esse caminho esteja balizado pelo Bem-comum. É este o conceito de liberdade católica e nele reside a verdadeira liberdade. É uma liberdade aberta a todos, desde que seja para o Bem.
De facto, na concepção anglo-saxónica a liberdade é restringida somente a alguns - é a liberdade do mais forte ou do mais apto. Na concepção germânica, a liberdade é ainda mais restringida. Não existe liberdade para ninguém, excepto para aqueles que dispõem do poder político, tenha ele origem democrática ou não.
1 comentário:
Como habitualmente, uma tese intelectualmente bem construída (por isso é que gosto de ler o PA). Mas que, também como habitualmente, cai por terra pelos pressupostos.
Em primeiro lugar, porque essa lógica de bem comum implica necessariamente um transpersonalismo que tem o totalitarismo como sua consequência inevitável.
É muito diferente "ter como baliza o bem comum" do que "ter como baliza os direitos dos outros".
Por outro lado, seria muito fácil argumentar que essa lógica do bem comum é sem tirar nem pôr a lógica de Kant e de todo o Direito alemão.
Enviar um comentário