10 novembro 2016

destruição

O Papa Bento XVI escreveu um dia que "A Tradição contém as raízes da sua própria destruição".

Referia-se obviamente à Tradição da Igreja que, para o catolicismo, é uma fonte da Revelação no mesmo plano da Bíblia. (Eu diria que é ainda mais importante do que a Bíblia, mas o Catecismo atribui igual peso às duas).

Na realidade, os principais destruidores da Igreja (comunidade) vieram sempre de dentro dela. Lutero, que era um padre católico, foi um dos principais, mas não o único. Curiosamente, não coube a Lutero, mas a um dos seus seguidores (Kant) receber a alcunha de "o destruidor"

A própria Parábola do Filho Pródigo é um exemplo da tendência destrutiva que existe dentro da comunidade (ekklesia). O filho mais novo decide quebrar com a tradição e seguir vida nova, enquanto o filho mais velho respeita a tradição da família e permanece com o pai e nos negócios da família.

O pai é generoso ao ponto de dotar o filho mais novo com a sua parte da herança. Na posse de um dote é mais fácil a cada um enfrentar os riscos de uma vida nova. A experiência correu-lhe mal e ele volta para casa e à tradição da família. O pai recebe-o.

O filho mais velho fica amuado. O pai está feliz. O filho mais novo arriscou inovar. A experiência correu-lhe mal, mas poderia ter corrido bem. Ele poderia ter dado origem a um novo caminho dentro da tradição da família. Não resultou. Paciência, fica para a próxima.

Nada pode obrigar um homem a seguir os conselhos do pai ou da mãe. Na realidade, a própria Igreja, com o seu ênfase no chamado personalismo (católico) - que coloca a tónica muito mais na diferença do que na igualdade entre os seres humanos - encoraja o filho a ser diferente do pai (que é a referência mais marcante que o filho tem da figura do homem) e, mais ainda, a filha a ser diferente da mãe (porque a mulher ocupa na comunidade um lugar  mais central e mais importante do que o do homem).

É a própria cultura católica que encoraja os cismas, e tal como o pai (e a mãe) do filho pródigo, espera que as coisas corram bem para os seus filhos que partiram. No caso de Lutero, as coisas correram mal, francamente mal. Desde então, a Alemanha tornou-se o epicentro das maiores calamidades que a  humanidade alguma vez conheceu.

Não foi assim com o calvinismo, e menos ainda com o anglicanismo. Mas é por isso mesmo que a cultura calvinista (e capitalista) dos EUA, agora personificada em Donald Trump, se está a demarcar da cultura luterana (e socialista) da Alemanha, que desde há anos domina a cultura da Europa continental e da União Europeia. E também de Portugal.

3 comentários:

Pedro Sá disse...

1. Que eu me lembre o PA escrevia há uns tempos que as mães católicas ensinam as filhas de modo a que as mulheres sejam todas iguais umas às outras.

2. Maiores calamidades? Bokassa, Pol Pot...

José Lopes da Silva disse...

Pedro Sá, se lesse o PA há mais anos, perceberia que, de acordo com o argumento, o Pol Pot veio da Alemanha.

Ricciardi disse...

Só para recordar que o cristianismo (filho mais novo), na figura de Jesus, quebrou a tradição judaica (pai). E correu relativamente bem. Durante 1500 anos. Pelo menos até aos netos (Lutero, Calvino, Henrique viii).
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Rb