O Projecto Joãozinho é, para mim, uma história de encantar. E um dos dias mais felizes da minha vida como Presidente da Associação Joãozinho foi o dia de Natal de 2014, menos de um ano depois de ter tomado posse.
Não tanto pelo dia em si, mas pela expectativa do que se iria passar no dia seguinte. Às dez da manhã teria lugar no Hospital de S. João uma reunião envolvendo o Presidente do Hospital, Prof. António Ferreira, o CEO do Continente, Eng. Luís Moutinho, e eu próprio, Presidente da Associação Joãozinho. E o meu sentimento de exultação derivava de eu ter conseguido finalmente trazer o Eng. Luís Moutinho ao Hospital de S. João.
Eu tinha passado o ano a procurar angariar mecenas para a obra, sobretudo em Lisboa, Porto, mas incluindo também uma viagem a Roma. O Projecto de arquitectura e engenharia para a nova ala pediátrica tinha sido feito pelo Hospital de S. João, e estava pronto havia dois anos. O custo era de 20,2 milhões de euros mais IVA, para um total de cerca de 25 milhões de euros.
Consegui angariar muitos mecenas, entre pessoas individuais, empresas e outras instituições. Mas depressa se tornou claro que mesmo o maior dos mecenas - a RAR, que se dispôs a contribuir com 500 mil euros, divididos em dez prestações anuais de 50 mil - representava uma fracção insignificante (2%) do custo total de obra.
Definitivamente, eu precisava de um grande mecenas, que contribuísse com milhões, e não meramente com milhares - aquilo que no meu espírito eu passei a designar como um mecenas-de- massa, um mecenas que juntando contribuições, ainda que pequenas, de muitos milhares de pessoas, pudesse contribuir com milhões de euros para a obra.
Em meados do ano, eu tinha estado no Hospital de S. João a assistir à inauguração da Casa Ronald McDonald. Era um projecto mecenático liderado pela Fundação Ronald McDonald que, numa parcela de terreno cedida gratuitamente pelo Hospital pelo período de 50 anos, construiu uma habitação com doze quartos para alojar familiares de pacientes vindos da Província, e que não têm dinheiro para pagar um hotel no Porto.
Dessa presença, ficou-me no espírito a cedência da parcela de terreno para fins mecenáticos feita pelo Hospital à Fundação McDonald pelo período de 50 anos. Mas não mais do que isso. O mecenas-de- massa para o Joãozinho era uma ideia que, por essa altura, continuava a existir somente no meu espírito mas sem qualquer realidade concreta.
Até que em Outubro fui convidado para assistir em Lisboa a um almoço-conferência sobre a família por uma conferencista americana. Era um evento restrito a cerca de trinta ou quarenta convidados, que teve lugar num edifício do Chiado.
À medida que a conferencista começou a falar, eu concluí que a conferência não tinha interesse nenhum. Como é que se vai buscar uma americana para falar sobre a família quando a família tem muito maior tradição em Portugal do que na América... Se um país tem de ensinar ao outro sobre a família é Portugal à América, e não a América a Portugal... Mas, enfim, esta irresistível atracção dos portugueses por tudo aquilo que é estrangeiro...
Enquanto a senhora falava, o meu espírito divagava até que assentou na pessoa de Alexandre Soares dos Santos que estava sentado numa mesa a uns metros da minha. E assim fiquei, por um tempo, pasmado, a olhar para ele, já sem ouvir o que a conferencista dizia. No final, tive vontade de lhe ir falar, mas contive-me.
Na viagem de regresso ao Porto, vim sozinho mas exultante, o tal mecenas-de massa começava a ganhar realidade concreta no meu espírito. E pensei: "Fiz bem em não lhe ir falar, fica como segunda opção. Para quê ir buscar o Pingo Doce a Lisboa, se eu tenho o Continente no Porto?".
1 comentário:
Falta sempre referir que tudo isso foi há 2 anos.
Entretanto aconteceu isto
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