20 fevereiro 2016

uma mulher

No auge das guerras religiosas em Inglaterra, os protestantes depreciavam os católicos dizendo que o catolicismo era uma religião de mulheres. Era uma maneira de depreciar não apenas o catolicismo, mas também as mulheres, que é algo que o protestantismo sempre fez.

Trata-se de um exagero e de uma simplificação grosseiras. O catolicismo é uma religião de mulheres e de homens, embora seja verdade que o elemento feminino predomina sobre o elemento masculino.
E é perfeitamente racional que assim seja.

O primeiro milagre de Deus, quando decidiu revelar-se aos homens, foi feito no ventre de uma mulher (Maria) e foi, portanto, uma mulher a ter a primeira prova real de que Deus não era uma abstracção (o Legislador abstracto do Judaísmo), mas uma realidade concreta. E, embora o cristianismo tenha por figura central um homem (Cristo), a devoção popular tende decisivamente para uma mulher (Maria).

Basta entrar numa igreja católica e contar cabeças para se ver logo que lá dentro, em geral, estão mais mulheres do que homens.  E nas sociedades de tradição católica, ao contrário do que a propaganda judaica e protestante pretende fazer crer, a mulher tem um estatuto incomparavelmente superior àquele de que goza nessas outras sociedades.

Não surpreende sequer que os movimentos de afirmação da mulher, nas suas diferentes variedades, tenham surgido nos países de cultura protestante (e também de maior influência judaica) porque a mulher tinha aí precisamente um estatuto discriminado e inferior. Não surgiram nos países de tradição católica porque a mulher sempre teve neles o estatuto de rainha.

Na cultura judaica dos tempos em que Cristo nasceu a mulher era discriminadíssima. Foi ele que elevou o estatuto da mulher como mais  ninguém o tinha feito ou viria a fazer. E fez isto sem nunca ter partilhado a sua intimidade com uma mulher (pelo menos durante os três anos da sua vida pública; nada se sabe quanto aos outros).

Como é que um homem, que nunca teve mulher (repito: certamente que não nos seus três anos de vida pública, nada se sabendo quanto aos outros), eleva o estatuto da mulher da maneira que ele o fez, é um milagre que permanece por explicar. Que ele, sendo um homem, teve algum amor ou amores parece-me absolutamente certo. Que os soube conter no período da sua vida pública é igualmente certo.

Embora seja irrelevante para o argumento, eu suspeito que ele tinha um grande amor por Marta, a irmã de Lázaro. A maneira como ela falava com ele - e sobretudo a autoridade com que ela falava com ele - faz-me supor que existia ali um amor recíproco mas que não podia nunca ser explicitado nem concretizado. Seria um amor semelhante àquele que o Papa João Paulo II teve por uma sua compatriota polaca, e que agora está a vir ao conhecimento público, mas que, em nenhum caso, o levou a violar o seu dever de castidade.

Foi talvez através do seu apelo constante à comunidade e à família universal que Cristo projectou a mulher para o pedestal. Momentos antes de morrer, já pregado na cruz, disse a João (o seu discípulo preferido e o mais jovem de todos), olhando para Maria, que ele tinha ali a sua mãe; e a Maria, olhando para João, que ela tinha ali o seu filho. Os três passaram a constituir uma família e o centro era a figura da mulher - a mãe, Maria. Daqui resultou também a personificação da Igreja na figura de Maria.

Na realidade, não existe família sem mulher. Um homem, só por si,  nunca conseguirá manter uma família unida. O próprio Cristo afirmou que não vinha trazer a paz, mas a espada. E, de facto, ele contribuiu para desunir a família judaica que, de resto, já se encontrava bastante desunida no seu tempo (fariseus, saduceus, etc.).

Se alguém podia unir a humanidade como uma família, como Cristo desejava, esse alguém só podia ser uma mulher, não ele, que era homem.



2 comentários:

Anónimo disse...

Notável o seu discurso sobre homem, mulher, Jesus e Deus.
Roçando a superfície e esgravatando o fundo, temos o seu pensamento da Vida.
É muito bom sentir-mo-nos confortáveis com o que escreve.

Deus o abençoe, bem como a sua obra-mestre — a sua Família.

Pedro Sá disse...

O PA comete o erro de tomar por regra eterna e geral aquela que é na realidade uma idealização e pedestalização burguesa. As mulheres sempre trabalharam no campo como os homens.

Para além disso, a tendência nacional para uma veneração particular por figuras femininas não existe por exemplo nos países católicos da Europa Central, e é algo cujas raízes têm que ser procuradas e encontradas nos tempos pré-romanos, sendo algo que quando muito se estende a Espanha e ao Sudoeste da Europa.