10 janeiro 2016

Parte a comunidade meio

Como Cristo tinha previsto, a mentalidade masculina não cria união, cria divisão, e isso aplicava-se até a Ele que sendo Deus, também era homem. O que seria de esperar dos outros, como Lutero que, sendo homem, não era Deus?

Só podia ser pior.

Lutero nunca chegou a criar uma igreja (comunidade) porque em breve a mesma mentalidade masculina da dissensão, que ele tinha aplicado com tanto sucesso à Igreja Católica, se voltava contra a sua própria igreja. Não vale a pena fazer aqui a história do luteranismo. Corre-se o risco de, por entre as árvores, se perder a floresta. E a floresta é que existem hoje 260 igrejas luteranas que rivalizam entre si e algumas se digladiam entre si.

Numa palavra, não existe igreja ou comunidade luterana nenhuma. Pelo contrário, a Igreja Católica, com a figura de Maria ao centro, continua una e indivisível, uma verdadeira Igreja ou comunidade.

Ao contrário da Igreja Católica em que a autoridade suprema e absoluta - o Papa - é eleito por uma elite, que é o colégio dos cardeias, nas igrejas luteranas a autoridade suprema e absoluta é um órgão colegial eleito democraticamente. Tomando a igreja luterana da Suécia como exemplo, votam para eleger os órgãos de direcção da igreja todos os fieis com 16 anos de idade ou mais.

O que é que se pode esperar de uma eleição para o órgão supremo de uma instituição onde só votam homens de elite - como na Igreja Católica - em comparação com uma outra onde até os adolescentes votam - como na igreja luterana da Suécia? Pode-se esperar uma grande diferença na qualidade de julgamento dos eleitores e, em consequência, uma grande diferença na qualidade dos eleitos.

E é assim que o Papa da Igreja Católica é uma figura respeitada em todo o mundo, mesmo pelos seus mais acérrimos adversários, ao passo que os chefes das igrejas luteranas, a esses ninguém  os conhece, excepto nas suas próprias paróquias.

E  quem é que, em cada uma das 260 igrejas luteranas espalhadas pelo mundo, os fieis elegem para chefe da sua respectiva igreja? Está bom de ver, aquele que melhor cumpre a tradição da igreja luterana, que é a de dividir, aquele que causar mais dissensão ou divisão. O melhor chefe de uma igreja luterana particular é aquele que melhor se demarcar das igrejas (é altura de lhes chamar seitas) rivais ou antagónicas. É o militante luterano activo, o militante sectário por excelência, aquele que melhor separa a sua seita das seitas rivais ou antagónicas.

O socialismo é o luteranismo laico, o luteranismo sem Deus. E Portugal só tem hoje partidos da família socialista, incluindo o CDS (está-lhe no nome: Centro Democrático e Social). Qual é o homem que os portugueses vão escolher para chefe de Estado?

Naturalmente, vão escolher um militante partidário, o equivalente laico do militante luterano. E que característica principal terá esse homem ou mulher? É aquele que mais divide a família socialista.

Não é por acaso que as eleições para chefe de estado, em regra,  se decidem à tangente, com o candidato vitorioso a obter 50% dos votos ou pouco mais. Este é o homem que divide mais, porque divide a meio. Se ele ganhasse (ou perdesse) com 95% dos votos dividiria muito pouco.

Este é o militante partidário por excelência, o homem mais divisivo que se pode imaginar. Parte a comunidade a meio. Põe metade do país contra a outra metade. Metade do país quere-o, a outra metade não o quer. Enquanto os abstencionistas assistem ao espectáculo. Não o querem nem deixam de querer, consideram que não é assim que se elege um verdadeiro chefe de estado.

9 comentários:

Vivendi disse...

Já ninguém os quer.

Não esquecer que a quase maioria do povo português já nem se dá à vontade de ir votar.

E fazem(os) muito bem.

Votar só para as eleições municipais e em candidatos não partidários.

Anónimo disse...

Pois, até pode ter razão.
Mas... pessoalmente não me agrada a monarquia.

Pedro Sá disse...

Equívoco...as igrejas luteranas são igrejas nacionais, e a profusão de denominações é algo típico do calvinismo e dos seus descendentes. Já para não falar nas igrejas pentecostais.

Ricciardi disse...

O modo de governança da Igreja é democrático (embora uma democracia restrita) pela simples razão de que os Papas não tem descendência a quem entregar a liderança. Caso contrário a governança teria seguido os padrões da época,os padroes de sempre e que sempre foram: monarquia hereditária.
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Não podendo seguir os padrões da época (todas as nações tinham um sistema de sucessão hereditária) a igreja inovou e contornou o problema. Esta limitação (sucessão hereditária), criada a partir de coisa alguma, provavelmente por razões mundanas, está na origem do estabelecimento duma democracia restrita (aristocrática, digamos) onde as elites escolhem o líder.
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De resto, se a sucessão na Igreja fosse hereditária provavelmente teríamos como Papa um descendente de São Pedro. A autoridade seria, na minha opinião, mais contundente.
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Por razões que não me parecem ser aquelas que o PA intui ou descreve, a Igreja decidiu, depois do séc v, que os seus colaboradores deviam ser solteiros.
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Como diz o Papa actual isto não é questão dogmática. É ou foi questão meramente programática.
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São Paulo é o único apóstolo que responde concretamente a esta questão. E ele disse que na opinião dele os padres devem ser solteiros para melhor poder trabalhar nas obras de Cristo, porém, disse também, que se um padre sentir que precisa da companhia duma mulher e de ter filhos, por causa da sua propria natureza, que case com ela e que seja um bom exemplo para a comunidade como pai, marido e padre honesto.
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Rb

Harry Lime disse...

O posto do PA apresenta um ponto válido e muito bem argumentado

Mas eu agora apresento o ponto oposto: não será a procura da unidade a todo o custo algo prejudicial também?

É que os grupos sociais não são todos iguais: por exemplo, os interesses dos operários não serão diferentes dos dos patrões? E um sistema de governo que faça de conta que estas diferenças não existem não será tão prejudicial como outro que as exacerba?

É que o argumento do PA é válido para as igrejas: qual a diferença de base entre as diversas igrejas protestantes? Apenas diferenças de pormenor!

Mas será que as diferenças entre os interesses dos agricuultores e os industririais, entre os patroes e os empregados, entre os novos e os velhos tambãm são diferenças de pormenor?

Rui Silva

PS. E nesta análse estou a partir que os homens de elite que governariam essa "Republica" de que o PA fala seriam de facto de elite, ie, sem as vicissitudes e as ambições que afligem todos os homens (de elite ou sem ser de eleite)

Ricciardi disse...

De resto, no actual sistema da Igreja (padres exclusivamente do sexo masculino), a eleição duma mulher não me parece que pudesse trazer os inconvenientes inerentes à condição sexual. Porque? Porque se os padres não podem casar é indiferente que seja um padre uma mulher ou um homem. Uma mulher é diferente dum homem por uma razão essencial: a mulher pode ser mãe.
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Se não puder ser mãe, devido à tradicao e regras da Igreja, não vejo como bons os argumentos que as impeçam de ser padre.
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O único problema que considero válido é o hábito. Quer dizer, se as mulheres pudessem ser padres, eu próprio estranharia e na volta até torcia o nariz. Então no pessoal mais velhote era motivo para lhes dar qualquer coisinha má.
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Compreendo isso e aceito. Por essa razão é que acho que as mudanças na Igreja devem ser feitas com muita parcimónia be espaçadas no tempo com pequenos saltos. Saltinhos e não rupturas.
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Rb

Ricciardi disse...

De resto acho mesmo que o melhor sistema de sucessao é o da Igreja. E que seria um bom exemplo para replicar no país dado que, ao q parece, a monarquia não tem pernas para se reerguer.
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Rb

Anónimo disse...

A divisão não é só Protestante. Há em todas as religiões.
Depois do concílio Vaticano II, por volta de 1968 apereceu uma seita nos EUA — que rapidamente se subdividiu — autodenominada teologia da libertação. Foi condenada pelo Vaticano por, entre razões religiosas, apoiar regimes comunistas com os de Cuba, Coreia do Norte e Venezuela.
Mais uns para partir.
Aliás Pedro Arroja escreveu um pequeno, mas bom, texto sobre ela.

Rui Alves disse...

Quer outra diferença? O pai de família preocupa-se com pão, empregos, educação e oportunidades para os filhos. O homem do partido preocupa-se com as causas dos da sua fauna. Mesmo que sejam duma espécie diferente, mas a fauna é a mesma.

http://www.noticiasaominuto.com/politica/518177/cdspp-madeira-critica-postura-de-resignacao-do-governo-regional

Depois admiram-se que as pessoas "se desliguem da vida política". E eles, não se desligam das pessoas? Não estão eles preocupados com os jovens madeirenses que partem para sempre para o estrangeiro, ou que permanecem na terra mas sem emprego mem futuro, com os impostos a aumentar, com a agricultura e a pesca "que agora já não dão nada" (diz-se assim por lá com resignação), com o turismo agonizante e nada competitivo, com as pessoas que ainda não refizeram as suas vidas depois do 20 de Fevereiro de 2010 ou das chamas criminosas de 2011 (como é o caso de familiares meus). Acham mesmo que essas pessoas estão raladas com a perda de autonomia? É essa a causa mais importante a defender? E depois, mesmo que recuperassem a suposta autonomia, o que fariam com ela? Mais do mesmo? Esta cambada de abécilas não percebe que foi precisamente a tal "autonomeia" que os levou até onde estão agora.

No caso da Madeira, precisam urgentemente de Homens de Família. Não de adolescentes numa terra de conto-de-fadas, sustentados pelos contribuintes do "contenente", a discutirem abstracções políticas indiferentes à ilha real que se desmorona à sua volta.