10 janeiro 2016

o único amor eterno

Imagine uma família numerosa em que, a certa altura, um dos filhos - ainda adolescente ou jovem adulto - decide contestar a autoridade do Pai e criticar a Mãe em público, ao ponto de a comparar à prostituta da Babilónia.

Esta família vai desfazer-se, e foi isso que Lutero fez. Lutero era um jovem padre católico, 33 anos de idade. Dividiu a Igreja, arregimentou consigo uma facção, e propôs-se fundar uma nova família - a igreja luterana - em moldes totalmente distintos da sua família de origem, a católica.

Enquanto na família de origem a autoridade suprema e absoluta pertencia a um homem (Papa), assessorado por outros homens (os cardeais), na nova família luterana a autoridade suprema e absoluta pertencia a um órgão colegial, do qual poderiam fazer parte homens e mulheres. E o padre católico, que estava impedido de ter relações íntimas com mulheres, cedeu o lugar ao pastor luterano que as podia ter, e até casar.

Lutero terá pensado que, ao proceder assim, estava a elevar o estatuto das mulheres. Na realidade, estava a diminuí-lo. Ele não compreendeu algo que a Igreja Católica já tinha interiorizado há muitos séculos, seguindo, de resto, o exemplo de Cristo, a saber que, o único amor eterno de um homem por uma mulher é o amor não-concretizado.

 Foi este o segredo que levou Cristo a não ter nunca relações íntimas com mulheres. E foi por isso que foi Cristo, mais do que qualquer outro homem na história da civilização, que mais elevou o estatuto da mulher, da condição miserável em que ela se encontrava na sociedade judaica do seu tempo à condição de figura central da Igreja Católica e de qualquer comunidade - como Portugal - tocada pela Igreja Católica.

O próprio Lutero, ao contrário de Cristo, acabou por casar. Cometeu um erro capital e o estatuto da mulher desceu em flecha em todas as sociedades tocadas pela influência luterana e, mais tarde, por outras influências protestantes, como o calvinismo. O catolicismo, que tem por centro a figura da mulher (Maria), cedeu, em parte, o lugar ao protestantismo, que tem por centro a figura do homem (Cristo).

Seria possível formar uma nova família, como Lutero pretendia formar, tendo por centro a figura do homem (Cristo), em lugar da figura da mulher (Maria)? Obviamente que não, e aquilo que mais impressiona é que sendo os luteranos, e outros protestantes, muito mais apegados do que os católicos à leitura e ao estudo das Escrituras, não tivessem reparado que é o próprio Cristo que dá a resposta a essa questão:

Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada;  porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra."(Mt:10:34-35)


6 comentários:

Pedro Sá disse...

Maria Madalena. COF COF COF.

Rui Alves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Alves disse...

É curioso que Ele tenha dito "a nora contra sua sogra", mas não "a sogra contra sua nora". Talvez porque isso já não era nenhuma novidade...

zazie disse...

Esta passagem literariamente é muito bonita mas é completamente jihadista.

Anónimo disse...

Pedro Arroja, o Senhor tem uma linha de raciocício constante (desde que o leio) e difícil, ou impossível, de quebrar.

Anónimo disse...

Um homem inteligente (não disse esperto) sabe em poucos anos que o amor carnal depressa se esgota. O homem apercebe-se que, fisicamente, as mulheres "são todas iguais". Os casais que perduram cultivam, sobretudo o amor que não é carnal.

Jean de La Bruyère: Le plaisir le plus délicat est de faire celui d'autrui.