Na minha vida sofri dois grandes choques
culturais, por assim dizer. O primeiro ocorreu no início da década de 90, aos
40 anos. Tinha regressado dos EUA e começado a exercer a minha atividade no
Porto, quando compreendi um conceito muito simples:
-
Não é possível instruir a
populaça!
Porque é que foi um choque? Porque assumi,
irrefletidamente, que após o 25 de Abril, estavam criadas as condições para
elevar o nível cultural da população. Como arrumei o assunto durante mais de
uma década, quando aterrei na realidade sofri um choque. A populaça continuava
a titilar com “o bacalhau quer alho”.
O segundo choque é mais recente e revelou-se
já após a guerra do Iraque. Acreditei que, em liberdade, os povos, saberiam
escolher as soluções políticas mais adequadas ao sucesso colectivo. Erro
novamente.
-
Os povos não têm capacidade para
escolher as melhores soluções políticas!
Julgo que não necessito de evocar dolorosos
exemplos (Sócrates...) para ilustrar esta constatação. As tragédias políticas evitam-se limitando
o leque de escolhas possíveis, como num sistema bipartidário em que ambos os
partidos são responsáveis.
O segundo choque, convenhamos, é quase um corolário do primeiro. Uma populaça
inculta não faz escolhas civilizadas.
Aceitemos a realidade que Deus
nos deu. O mundo é o que é, não é o que nós queremos que seja.
5 comentários:
Está a seguir os passos do Mestre, no caminho da conversão.
Está muito calor. Vou beber mais uma cerveja.
> Não é possível instruir a populaça!
Alguém devia avisar aquele fulano dos apóstolos de que a coisa não funciona.
Francamente, estes raciocinios estão um bocado mancos. E a percepção da realidade é confusa.
Os nossos donos não precisam de populaça instruída (para além de pequenas quantidades), precisam de populaça entretida. E as escolhas políticas ... quais escolhas?
(O facto de andarmos distraidos com o folhetim 44 só mostra como é fácil entreter-nos.)
É justamente por não ser possível instruir a populaça que o Juiz Carlos Alexandre só tem de dar, nesta fase, explicações aos seus pares. Não tem de dar explicações para alimentar a calhandrice ou desejos voyeuristas de quem anseia por saber as maiores ou menores intimidades do Sócrates. E há bons indícios de que esse juiz até está a fazer o que deve: até agora dos vários que tiveram de opinar sobre a prisão preventiva, só um juiz (esta semana) é que entendeu as coisas de uma forma diferente daquelas que todos os outros entenderam!
Lembro-me perfeitamente de ouvir o Prof. Gentil Martins quando era Bastonário - em directo - a dar uma entrevista onde declarou: «É à Ordem dos Médicos que compete decidir se um médico que deixou um bisturi dentro de um paciente, depois de o operar, praticou ou não um acto de negligência médica.». À guisa de conclusão poderíamos declarar: cada populaça tem os Políticos, os Juízes e os Médicos que merece.
JJosé
Concordo contigo, Jaquim (a sério!)
Mas se a "populaça" não tem a "não têm capacidade para escolher as melhores soluções políticas" então quem tem?
Tu? Eu? Um comité (central?) de sábios?
Rui Silva
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