07 outubro 2014

O problema do voto

...é a capacidade de votar sobre a propriedade e direitos naturais (como o de estabelecer formas de cooperação voluntária em vez de compulsórias) de todos os outros.

Quais são os sistemas organizacionais que subsistem voluntariamente no tempo e onde são praticados sistemas de decisão colectiva?

Resoluções espontâneas comunitárias por consenso... Porque em geral o que está em causa são apenas aspectos comuns, mas sem interferir na soberania das partes, a não ser que estas acedam a tal voluntariamente (ex. as Cruzadas?).

Associações, com liberdade de entrada e saída e financiamento voluntário.

Associações de proprietários, como empresas ou condomínios, onde a tendência é a unidade familiar ou comunitária se manter, em vez do voto pulverizado individualista.

Nestes, as elites naturais são formadas e contribuem pelo exemplo para sustentar a ordem social. Por exemplo, nas empresas, as mudanças de CEO e administrações, apesar de terem de ser validadas, a seu tempo, pelo Assembleia Geral de Accionistas, passam-se com a maior tranquilidade e sem campanha eleitoral, porque ela é essencial a preservar o valor e a sobrevivência de longo prazo. Noutras organizações de sucesso sem fins lucrativos, é o mesmo. E claro, temos o exemplo da Igreja.

Já o voto universal recai em abstracto sobre tudo, em especial sobre o Direito (ainda que com o filtro representativo), é uma arma de agressão permanente. E no Estado Moderno, é uma arma permanente progressista, de onde não vai sobrar nada. A família, a natalidade e tudo o mais, vai cair nas mãos totalitárias de uma vontade geral iluminista e cientificamente igualitária e claro, infinitamente humanista ao ponto de se esquecer do homem.

E dado o problema da natalidade ir constituir uma ameaça séria à sustentação da social-democracia, será sobre este que mais tarde ou mais cedo vamos ter novidades, com toda a certeza construtivistas da ordem social. Basta a tecnologia dar uma ajuda e a tendência para as famílias se deflacionarem continuar: de famílias com vários irmãos, primos, tios, em vários graus, no futuro próximo o indivíduo praticamente só tem o parente directo e… o estado. A vítima perfeita para aceitar tudo o que a vontade geral lhe der. O Estado Social é a maior fonte de individualismo extremo a-comunitário. Sem deveres nem obrigações a não ser para quem tudo lhe dá, e de resto também tira.

O aspecto económico, já aqui tratado por diversas vezes, resume-se à tendência para qualquer regime político aumentar o número de pessoas dependentes directa ou indirectamente do Orçamento de Estado, reduzindo progressivamente, os contribuintes líquidos (produtores na parte voluntária da ordem social), a uma minoria. É fácil de visualizar o porquê da tendência suicidária mais acelerada das democracias, dado depois a maioria dos votos estar agora do lado dos receptores.

PS: Outra forma de visualizar o problema é pensar em quem seria capaz de comprar um apartamento, com a poupança da sua vida, num condomínio numeroso onde as decisões de orçamento e auto-regulação fossem estabelecidas, não por voto por fracção, mas por voto universal dos maiores de 18 anos...Isto dando de barato que o voto universal em comunidades mais limitadas e pequenas conseguem evitar os males das macro-decisões-democráticas dado o contacto mais directo e pessoal.

5 comentários:

Vivendi disse...

Grande post.

Euro2cent disse...

Há muito aqui com que concordar, mas o texto está a precisar de ser afiado - está um bocado desfocado, vago e desigual.

Propunha-lhe uma pergunta: para que serve, ou mais exactamente, porque existe, o voto universal? (o "cui bono" dá sempre jeito ...)

A minha ideia é que a elite republicana dominou, a partir do século XIX, a técnica de fabricar consentimento, e assim pode dar às massas um "benefício" que as compromete, e culpa, no sistema político, sem realmente correr perigo de perder o controlo.

(Estou a falar mais de EUA etc. do que de cá, onde as coisa são mais aleatórias, e vão por arrasto.)

Anónimo disse...

CN, nos condominios não há resoluções espontâneas comunitárias por consenso, nem financiamento voluntário. Seria absurdo, nem lhe vou explicar porquê, mas de facto vê-se que nunca fez parte de um condomínio e muito menos foi administrador de um.Isso, quando muito, existe numa das fracções, a comunidade familiar, e ainda assim... No condominio, resoluções espontâneas comunitárias por consenso e financiamento voluntário, só se o prédio for todo seu e isso não é condomínio ;)

Anónimo disse...

Anónimo em cima, eu não acredito que o CN não saiba o que é viver em condomínio, porque quase toda a gente agora vive em prédios ou urbanizações com condomínio. Acho que ele apenas está a dizer como seria bom que fosse como aquilo que descreve e eu também acho. Mas havendo áreas comuns, sendo num prédio de três andares, seja numa comunidade de dez milhões, aqui com muito mais razão, há sempre perda de soberania sobre o património de cada um. Quando se vai viver para um prédio ou outra comunidade, ou quando se nasce, há um regulamento para se cumprir, quotas (ou impostos), despesas ordinárias, extraordinárias, etc, seja para o elevador, seja para uma estrada, ponte, escola, etc. Se nem todos pagam voluntariamente ou aprovam a despesa, há que decidir e cobrar, às vezes através do recurso das autoridades. Olhe, eu fui administrador durante um ano do meu prédio e nunca mais na vida :). Mas concordo com o CN quando diz que o ideal seria como ele descreve. Acho que é isso que ele quer dizer.

António

Anónimo disse...

Talvez quizesse dizer isto. Eu gostava :) Um dia deixo tudo e vou viver para a serra de Monchique para ao pé dos hippies :).
Mas é curioso o CN falar nos cruzados, como exemplo. As cruzadas foram financiadas em grande parte por impostos cobrados à força aos pobres aldeões. Era um fartar de ir ao bolso à "soberania" de cada um ;) Não se fazem omoletas sem ovos.