07 outubro 2014

Anarquia, cristianismo e ordem social

Repescando a citação:

.. tal como o milagre grego surgiu da discórdia, também a civilização europeia deve a sua origem e raison d'être à anarquia política.
Hayek, citado por Rodney Stark

Existe uma velha mania de associar anarquia a desordem social (para o qual o termo certo é a "anomia", a ausência de observação de qualquer regra ética), no entanto, no pico da Idade Média e no máximo da autoridade da Igreja na Europa, a situação era mesmo a de uma anarquia política, dada a completa pulverização de soberania, autoridades e fontes de direito interlaçados. No entanto, a estabilidade do direito e legitimidade era próximo do permanente.

A anarquia do poder não significa assim a anarquia da ordem social. Na realidade, à medida que a concentração do poder aumenta, mais razões há para temer uma fractura e desordem social dada a artificialidade com que subsiste.

Lendo os comentários ao post do Joaquim, atribui-se antes ao cristianismo a responsabilidade pela civilização ocidental.

Eu creio que um e outro fazem parte da receita. A anarquia política, significando um elevado grau de descentralização de soberanias e o baixo grau de intervencionismo sobre o direito, é a receita, que precisa da outra receita para subsistir. E a outra receita é existir consenso sobre as normas éticas e morais e que preservam a soberania da família, da propriedade (a sua sacralização em muitos aspectos), dos deveres, do cumprimento de contratos, etc, a que se soma, claro um aspecto teológico que uniu sempre todas as grandes civilizações. E isso foi o que o cristianismo providenciou.

Com ambos, o almejado equilíbrio entre ordem social estável e criatividade necessária ao difícil e penoso processo de acumulação de capital e inovação, torna-se possível. Não sendo de somenos realçar que o universalismo do catolicismo e a sua compatibilidade com a busca de verdade e o uso consciente da razão ou da filosofia, é também parte integrante.

Isto constrata com a visão de que só um poder político bem organizado de onde emana um direito postivo uniforme com ares de religião secular (a constituição) é capaz de criar ordem social. Que é como quem diz, só o estado moderno cria civilização. Seria uma contradição da história se assim o fosse.

1 comentário:

Anónimo disse...

O problema não é pensarem isso. O problema é materializarem a crença.
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Em 1999 foi desregulada a actividade bancária no que a aplicações diz respeito, cujo principal propulsor foi Reagan na decada anterior.
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Bastaram 10 anos para percebermos no que é que a desregulação veio a dar. Numa imensa crise internacional.
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As causas?
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Precisamente o abuso pela liberdade excessiva nas operações.
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Em 1999 os bancos puderam novamente aplicar os recursos (depositos) em investimentos e instrumentos de derivados. Basta um investimento desses mal feito que coloca todo o banco em risco e tudo o que gravita à sua volta.
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Portanto, a fractura e desordem devém dos excessos. Para um lado ou para o outro. O autoritarismo e a anarquia.
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Mal se experimenta um dose de um desses excessos a fatura apareçe logo a seguir.
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Eu sei que os libertários (anarquistas incluidos) não vêm problema numa crise. Vcs acham que a crise é o processo de cura. Aliás pensam que ela deve existir em todo o seu esplendor durante o tempo que for necessário, desconsiderando as pessoas nessas equação.
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Como desconsideram resolver um problema (o problema resolve-se por ele próprio fruto das maos invisiveis do mercado), vcs acham que não se pode fazer nada para debelar as crises. É sofrer e calar.
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Ora, isto não é teoria nem tese cientifica alguma. Tem a mesma validade que a tese de se matar todos os infectados com virus para suster a infecção. É uma ciência peculiar.
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Rb