O desenvolvimento de uma sociedade complexa
necessita de energia, em grandes quantidades. Alguns autores afirmam mesmo que
a curva do consumo de energia/ capita corresponde à curva do desenvolvimento
civilizacional.
Deste princípio podemos deduzir que numa sociedade
inserida num ecossistema termodinamicamente adverso, a população tem de aceitar
um modo de vida menos sofisticado, mais básico, por assim dizer. Tem de aceitar
mais entropia social (caos, desordem, conflitos, guerras), o que se traduz
também por mais liberdade individual (o número de microestados possível é
maior, é só usar a imaginação).
Numa sociedade complexa, como a
norte-americana, por exemplo, a estruturação é maior e a liberdade de ação é
menor. O ensino obrigatório, a certificação profissional, as entidades
reguladoras, o litígio por má prática, etc., demonstram o que pretendo dizer.
Há menos liberdade nas sociedades com menor entropia.
Os portugueses, na latitude a que vivem, são
um caso intermédio entre o caos e o rigor. Convivem bem com um grau elevado de
entropia e até são ciosos da liberdade que isso lhes confere.
Como explicar então a obsessão lusitana com o
que eu chamo “A Perfeição”. A nossa cultura exige uma sinceridade absoluta,
lealdade sem limites, justiça sem favores, meritocracia, amor incondicional,
abnegação, enfim, pretendemos o Paraíso na Terra. Por isso somos tão facilmente
ludibriados por vendedores de banha da cobra (permitam-me a chalaça).
A minha explicação é a seguinte: somos tão
exigentes pelo sentimento de culpa que temos por nada fazer pela tal Perfeição.
Gostamos de nos mostrar escandalizados com todas as injustiças do mundo, o que
não mexemos é uma palha para acabar com elas.
A termodinâmica explica porquê... andamos
exaustos com o trabalho que nos dá extrair a magra negentropia que conseguimos. A
Igreja Católica, por seu turno, também é tolerante com a nossa complacência
quando garante que os maus vão pagá-las no outro mundo... tira-nos um peso da consciência.
É a vida!
2 comentários:
A Igreja Católica não diz tal coisa.
O Povo diz "cá se fazem, cá se pagam". Não é lá.
eao
A Áustrália não é uma sociedade complexa e sem entropia.
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