Como uma família
Por: Pedro Arroja
Portugal governa-se como se governa uma família.
Portugal não se governa, como fazem os países
anglo-saxónicos, através da instituição do mercado, que pressupõe fracos laços
pessoais, a submissão das pessoas a um processo impessoal e a concorrência
entre as pessoas.
Neste sentido, a ciência económica não tem soluções que
possam ajudar Portugal, senão em questões marginais. A ciência económica foi
criada nos países anglo-saxónicos e está feita para resolver problemas da sua
própria cultura, não da nossa. Ainda recentemente foram atribuídos os Prémios
Nobel da Economia de 2013 e, de forma não surpreendente, foram para três americanos. Nunca um
economista do sul da Europa, ou da América Latina, o ganhou – e dificilmente
algum dia o ganhará.
Portugal governa-se ainda menos através do Estado social e
democrático – o Estado social-democrata – que predominantemente nos tem vindo a
governar nas últimas décadas. Na realidade, aquilo que ele fez foi
arruinar-nos, não governar-nos. E isto é assim porque o Estado social-democrata
pressupõe relações interpessoais ainda mais frágeis, praticamente o
desmantelamento da instituição da família, a sua substituição por relações de
poder entre as pessoas, e a submissão das pessoas ao poder político. Nada disto
está na nossa tradição de portugueses. É uma invenção germânica.
Portugal governa-se como se governa uma família. E como é
que se governa uma família? Em primeiro lugar, gastando dentro das suas
possibilidades.
Se uma família vai continuamente ao restaurante, em lugar de
comer em casa, vai ficar arruinada. E a ruína será ainda maior se, durante
muito tempo, alguém lhe emprestar dinheiro para sustentar este luxo. Foi isto
que Portugal andou a fazer durante anos a fio, a comprar do estrangeiro aquilo
que poderia produzir cá dentro. Esta é a receita certa para o desastre como
qualquer pai de família muito bem sabe - não é preciso ser economista.
Uma família não se consegue governar se a decisão quanto a
saber onde é que se vai almoçar ou jantar é tomada democraticamente pelo pai,
pela mãe e pelos vários filhos. A opinião dos filhos, que são os mais
numerosos, acabará por prevalecer, e a família acabará no restaurante, pois
quando vier a factura eles sabem que não serão eles a pagá-la, serão os pais –
normalmente, o pai. Nenhuma família se governa dando aos filhos oportunidade de
participarem em decisões importantes, pela razão simples de que eles nunca
governaram coisa nenhuma.
Uma família governa-se – e é assim que se governa a família
portuguesa – pela autoridade suprema e absoluta de duas pessoas, uma mulher e
um homem, cooperando um com o outro, ela possuindo a última palavra, às vezes a
única, em certas áreas da governação, ele possuindo a última palavra, às vezes
a última, noutras.
Portugal é uma figura de mulher, possui uma cultura
feminina. O povo português, cada família portuguesa – à parte um pequeno número
de famílias -, sabe muito bem
governar-se , e esta é a figura da mulher na família – a Nação ou comunidade
portuguesa.
Falta o homem. O papel desse homem é sobretudo o de dizer
não quando as circunstâncias não permitem que se gaste mais nisto ou naquilo:
“Este mês não se vai ao restaurante”.
Este homem pode e deve ser escolhido democraticamente,
embora não partidariamente, porque nesse caso fica a governar apenas para uma
parte da família portuguesa, e frequentemente contra a outra. Ele não pode
também ser escolhido por meninos ou meninas de 18 ou 25 anos que nunca
governaram uma família porque esses não sabem o que é governar.
Não faltam por aí homens desses, homens que saibam escolher
quem sabe governar, e homens que sabem efectivamente governar.
(in Vida Económica desta semana)
4 comentários:
“Com efeito, Salazar vive do seu ordenado: 15 mil escudos mensais. Praticamente deveria viver a expensas do Estado, visto que a lei concede ao Presidente do Conselho uma casa, mobílias, roupas e pessoal de serviço. Contudo apenas aceitou a casa e paga o combustível e as criadas. Em Lisboa, vive em três pequenas divisões, que ele próprio mobilou. Fechou nos armários os serviços de mesa solenes e comprou copos e toalhas a seu gosto. Os seus escrúpulos são extremos. Por princípio, recusa todas as vantagens que poderiam advir-lhe do cargo e do nome. Lembro-me de uma das suas frases: «Hei-de virar e sacudir as algibeiras antes de deixar o poder. Dos meus anos passados, nem sequer levarei a poeira», "Férias com Salazar" (1952), Christine Garnier
Ou seja - o povo pagava-lhe a casa, o combustível, as criadas, e as amásias...
Com Mário Soares e & é que foi e ainda é tudo fixe.
Claro. Agora por essa ordem de ideias ser pai ou mãe é que é o requisito de capacidade eleitoral. Que coisa mais ridícula, que aliás pressupõe valorações que o Estado não pode estar legitimado a fazer, sob pena de ser necessariamente um Estado totalitário.
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