29 outubro 2013

o processo

A principal característica da masculinidade é a contenção. Para chegar a esta verdade eu precisei de uma comunidade, a comunidade do PC, onde a zazie teve um lugar importante, embora não único.

A partir de agora um homem é bem capaz de ficar a pensar durante meses, senão anos, se é sempre assim, se a todas as verdades importantes a que chegou na vida, se foi sempre através de uma comunidade.

Temos agora aqui a importância do factor tempo para chegar à Verdade. (NB: no post anterior, eu deveria ter escrito verdade com letra minúscula). É nesta altura, também, que se vão reunindo os tais sinais convincentes e que convergem todos, ou não,  para a mesma conclusão.

É conveniente dizer aqui que eu cheguei àquela verdade - a de que a principal característica da masculinidade é a contenção -, não apenas através do PC. Analisei muitos outros sinais que se me foram deparando ao longo do tempo e há um que vale a pena reproduzir.

Os padres são todos homens e servem uma figura de mulher - a Igreja. O propósito dos padres é o de chegarem à Verdade através da Igreja. E qual é a característica dominante do código de conduta que a Igreja impõe a esses homens? Contenção, incluindo a contenção sexual que é a mais difícil forma de contenção que se pode impor a um homem.

Sim, é certo, todas as verdades importantes a que eu cheguei na vida fi-lo sempre através de uma comunidade. Através destas verdades, uma hoje,  amanhã outra, eu estava a percorrer o caminho para o destino final - a Verdade.

Trata-se agora de articular todas as verdades a que se conseguiu chegar. Fará isso sentido ou não, serão essas verdades verdades desgarradas e sem qualquer relação entre si? O tempo continua a passar, o tempo é um factor essencial deste processo, porque é ele que permite ir acumulando os sinais e submetê-los a escrutínio racional, individualmente e em conjunto.

Ate que chega o dia em que, depois de muito meditar, este homem chega finalmente à conclusão, por um processo de escrutínio racional e de articulação racional, que essas verdades, quando postas em conjunto, fazem sentido racional, que não podem ser, de maneira nenhuma,  o produto do acaso. Este homem chegou  ao destino final - a Verdade.

Agora, eu quero fazer aqui uma qualificação muito importante. Este foi o processo pelo qual eu cheguei à Verdade, por via racional. O A. parece ter seguido um processo muito semelhante ao que acabo de descrever. Eu não sei se há outros para lá chegar também por via racional. Muito provavelmente, eu diria quase de certeza, há, e são muitos.

17 comentários:

Anónimo disse...

Todos esses caminhos, a união de pontos e sei lá que mais, acontecem a qualquer pessoa que pense... aos que passam a vida a comer tremoços e a beber cerveja, enquanto esperam pelo próximo desafio de futebol, acontece menos...
Mas seria um verdadeiro milagre se todos os caminhos levassem a Deus... -- JRF

Anónimo disse...

O ano passado aconteceu-me algo muito parecido... de repente acontecimentos com mais de duas décadas aparecem-me interligados com o presente e eu tentei compreendê-los racionalmente... e andei mais de um ano a perguntar-me como é possível... a explicação racional é... não existe... é tão inverosímil, que não pode ser...
E então concluí que foi o diabo que andou a testar alguém... pela mesma razão do A. e do PA... porque a racionalidade apenas nunca explicará nada... e alguém falhou o teste miseravelmente. Miseravelmente... E já que estamos nisto, não foi por falta de sinais e ajuda de Deus!...
E eu?... eu não falhei... por pouco. Olhe que essa parte foi pouco menos que um milagre... -- JRF

Anónimo disse...


Num post anterior:

"Um dia, sem milagres nem palermices sobrenaturais, se tivermos uma boa memória, alguma sensibilidade, alguma atenção ao pormenor vamos aperceber-nos que apenas algumas dessas milhares de decisões estão ligadas e que fazem sentido." - A.

Não compreendi esta parte. Se tiver tempo e paciência peço a indulgência do A. para explicar melhor.
Desde já agradeço.

D. Costa

Anónimo disse...

Num post anterior:

"...Existe ali um ligeiro problema de percepção da realidade..." - A.

Por outras palavras:
O racionalismo dá-nos uma percepção horizontal da realidade. A Fé dá-nos uma percepção vertical da realidade.
Estou correcto ao interpretar as palavras de A. deste modo?

D. Costa

Anónimo disse...

Quanto às decisões e milagres... eu consigo fazer essa retrospectiva para grande parte da minha vida... há momentos radicalmente tão decisivos que até o Kant lhe atribuiria grande significado...
Decisões racionalmente tão erradas (mesmo na altura, porque muitas vezes isso só se vê passados anos e anos)... andar meses a escolher uma faculdade e mudar a decisão no último minuto, ao escrever na inscrição... mais tarde, desistir dessa faculdade e mudar para outra (racionalmente curso e instituição bem pior) ... potencialmente desastroso, mas a vida correu-me bem, conheci a minha mulher (e não só) por ter mudado, tive filhos e profissionalmente não me pude queixar...
Podia ver milagres em todas estas decisões... e se me tivesse corrido mal (ainda está a tempo em boa parte), podia ver o azar e o destino em tudo... -- JRF

Anónimo disse...

Num post anterior:

"Na nossa vida vamos tomando uma série de pequenas e, aparentemente insignificantes, decisões (...)
Em cada uma dessas decisões poderíamos, noutro contexto, ter tomado precisamente a decisão oposta.
(...)
Um exemplo, eu actualmente entro num supermercado, escolho algo para os meus filhos comerem e depois pago a conta. Mas se não tivesse dinheiro entraria no supermercado, escolheria algo para o meus filhos comerem e depois sairia sem pagar."

No segundo pressuposto (sem dinheiro para comprar comida) não há verdadeiramente opção.
A única opção realisticamente seria deixar os filhos morrer à fome.
Não há aqui liberdade de escolha entre duas opções.

(...)

D. Costa





Anónimo disse...

"...parte do problema reside em mim que não fui capaz de explicar as coisas de forma suficientemente clara e objectiva para uma pessoa racional.
(...)
Então vou tentar de novo. E faço-o porque considero que é minha obrigação defender o “caminho racional para Deus”. " - A.

Pela minha parte peço-lhe que continue esse esforço.
Interessa-me em particular as implicações morais desse caminho racional para Deus.

(...)

D. Costa



Anónimo disse...

Ainda A. num post anterior:

"Um exemplo, eu actualmente entro num supermercado, escolho algo para os meus filhos comerem e depois pago a conta. Mas se não tivesse dinheiro entraria no supermercado, escolheria algo para o meus filhos comerem e depois sairia sem pagar.

Eu sou a mesma pessoa mas, fruto de uma série de decisões diferentes no meu passado (e até talvez decisões dos meus pais), no momento actual poderei pagar ou roubar."

Duvido que este seja o aspecto mais importante sobre aquilo que A. nos tenta explicar, mas mesmo assim gostaria de colocar o seguinte problema:

A minha dúvida é sobre o tema a que os clássicos chamavam "custom of the sea".
Imagine-mos 3 náufragos num bote à deriva no meio do oceano, sem comida nem água (trata-se do mesmo cenário da montanha exposto por A. mas com contornos morais mais complexos).

Sabem os 3 náufragos que a sua hipótese de sobrevivência é ínfima, mas no entanto ela existe (serem salvos por um navio).
O tempo é aqui um factor decisivo. Quanto mais tempo aguentarem maior a probabilidade de salvarem a sua vida.
(...)

D. Costa











Anónimo disse...


Realisticamente os 3 náufragos têm 3 opções:
Ataraxia - nada fazerem. Rezarem e esperar pela morte ou intervenção divina.
Suicídio - Uma opção que verdadeiramente não é opção, uma vez que o suicídio representa morte e sofrimento tal como a fome e a sede.
Sacrifício - Morrer um dos náufragos e utilizar o seu corpo como alimento e o sangue como bebida. Aumentando assim a possibilidade de sobrevivência a pelo menos 2 deles.

Racionalmente a hipótese mais lógica é a do sacrifício.
Mais ainda. "Racionalmente" os 3 terão de chegar a acordo que esta é a solução. Pois apenas se os 3 estiverem completamente de acordo será um sacrifício e não um homicídio.
Deverão, se todos estiverem de acordo, proceder a um sorteio aleatório que envolva os 3.
O sorteio em si será considerado como a "mão de Deus". Na realidade é Deus (ou a sorte para um ateu)
a escolher o sacrificado.
Assim, em termos teológicos, não estamos aqui perante um capricho ou decisão humana, muito menos perante um homicídio.

o A. tem algum comentário a fazer sobre este cenário?

D. Costa



Anónimo disse...

"imaginemos" e não "imagine-mos"

D. Costa

Anónimo disse...


Formulando a pergunta ainda de outro modo:

Se podemos chegar a Deus por um caminho racional quais as implicações morais desse caminho ou destino?
De que modo tomaremos decisões diferentes daqueles que nunca percorreram esse caminho para Deus?

D. Costa


zazie disse...

Olha. A marina acertou.

É preciso muita contenção para me aturarem

":OP

zazie disse...

Por acaso já fiz estes balanços sem ter nada a ver com "Verdade".

Apenas como balanços de coisas que nos acontecem que podem mudar a nossa vida.

Dos principais e que tiveram a ver com decisão a que fui empurrada por circunstâncias ou que tomei, concluí que acertei por mim por instinto e com ajuda por estratégia racional

Nenhuma levou a sagrado algum. Acho que foi sorte.

zazie disse...

Acho que na única questão em que o tempo acaba por juntar os pontos é na capacidade que tenho de esperar.

Sou capaz de esperar uma vida até dar a resposta. Não é vingança, propriamente- é a resposta merecida. É sair por cima e passados anos ficar frente a frente.

zazie disse...

Mas, decisão importante, que acarretasse mais do que eu, sempre tomei com conselho.

Conselho racional e masculino.

zazie disse...

O D. Costa é burro.

A solução da crença não é apenas entregar na mão de Deus- é o "ajuda-te que Deus te ajudará".

zazie disse...

http://www.cocanha.com/ajuda-te/