03 março 2013

como bancos e poder político enganam o povo há séculos II

Nos primeiros capítulos do seu livro ("Moeda, Crédito, Banca e Ciclos Económicos") de Huerta de Soto, este demonstra com bastante detalhe que os depósitos à ordem bancários não se distinguiam dos contratos de guarda de valores (desde a Grécia, Roma e Idade Média), e só a manipulação sucessiva operada entre banqueiros e poder político (com o beneplácito de juristas e economistas, acrescento eu) conduziu primeiro à ambiguidade (que resultava um certo secretismo elitista do negócio bancário) e depois ao estabelecimento legislativo do actual sistema monetário daquilo que constituía uma fraude.

Assim, originalmente existiam dois tipos de operações bancárias:

- uma de guarda de valores de moeda em prata/ouro sob a forma de contas correntes (ou depósito à ordem) e que constituíam depois a base de um sistema de pagamentos e cobrando comissões (de guarda e pagamentos).
- uma de crédito ao banco permitindo a este dispor desses valores e exercer a sua função de intermediação de crédito, concedendo crédito a terceiros com uma margem

Nesta estrutura, uma conta corrente representando x moedas ou gramas de prata/ouro correspondiam a x moedas ou gramas de prata/ouro efectivamente existentes e alocados a esse cliente (o facto da moeda ser fungível e da guarda poder ser conjunta em nada obsta que a soma de todas as contas correntes ter de corresponder a uma totalidade de x moedas ou gramas de prata/ouro efectivamente detido à guarda pelo banco).

A posse de moeda numa conta corrente corresponde assim a ...posse de moeda.

2 comentários:

Ricciardi disse...

Numa empresa qualquer, não-financeira, se eu como fornecedor vender mercadoria a uma empresa cliente, a mercadoria tambem não está lá. Está algures no activo da empresa cliente em forma de caixa, bancos, clientes a receber, produto acabado etc.
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Aonde está o problema?
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Se eu quiser a minha mercadoriazinha, o cliente tambem nao ma dá de imediato porque já a transformou num activo qualquer.
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O caro CN ainda não percebeu o que o Huerta quer dizer. Mas pronto. O dinheiro que eu deposito no meu banco não está lá à minha espera, já que é fungivel, ele está algures no activo do banco em forma de credito concedido. Se o banco for liquidado e vendidos os activos todos ainda sobram, pelo menos 9%, que é o rácio de solvabilidade.
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Não me refiro a vigarices e conatbilidades viciadas, obviamente.
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Mas como é que o CN queria que fosse?
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O que tem de ser corrigido, e está a sê-lo, é outra coisa. É que a banca de investimentos que lida com os DERIVADOS esteja completamente fora da banca comercial para evitar que a VIRTUALIDADE de algumas operações da Banca de Investimentos possa afectar os rácios da Banca Comercial.
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Rb

Euro2cent disse...

Maturity transformation considered harmful

http://unqualified-reservations.blogspot.pt/2008/09/maturity-transformation-considered.html

O autor é verbosamente interessante, numa tradição intelectual semi-cabalistica. Não precisa de ser tomado literalmente, mas é boa pimenta para provocar uns espirros.

Costuma desenterrar alguns escritos antigos, e declara abertamente que o progresso desembestou - falta-lhe perceber que foi com o camarada Martinho, e não um par de séculos depois.