“Gold gets dug out of the ground in Africa, or someplace. Then we melt it down, dig another hole, bury it again and pay people to stand around guarding it. It has no utility. Anyone watching from Mars would be scratching their head.” (Warren Buffett)
Um bom sistema de
trocas é aquele que garante que a escassez relativa e preferências por cada um
dos bens e serviços trocados estão apropriadamente representados no sistema de
preços relativos. O ouro tem um valor intrínseco pelos usos que lhe são dados,
como o pão, o cimento ou outro qualquer bem e serviço.
A circulação do ouro
como moeda gera a necessidade entre os agentes económicos de deter ouro, não
por algum tipo de preferência em relação à mercadoria, mas por ser a única
forma de trocar bens e serviços. O valor relativo do ouro sobe, não por
qualquer alteração de preferência em relação a essa mercadoria, mas pelo
simples facto de ser usado como moeda. Na indústria irão procurar metais
alternativos ao ouro para o fabrico dos seus produtos porque o ouro se tornou mais caro; mulheres
optarão por prata quando compram jóias.
Em suma, poder-se-à
basear um sistema de trocas numa mercadoria, sabendo que ao fazê-lo se irá
inflaccionar artificialmente o seu valor? Será que a existência de um meio
único de troca tem que ter como custo, a realocação de recursos e alteração de
preferências provocada pelo aumento artificial do valor da mercadoria-moeda?
Com o papel, esse
problema não existe: dificilmente a produção de notas bancárias tem algum
impacto no seu preço. Não existe qualquer alteração de preferências ou
realocação artificial de recursos.
2 comentários:
Caro Carlos Pinto,
Quase nunca existiu um sistema padrão-ouro com 100% de convertibilidade.
Por exemplo, em Inglaterra entre 1700-1914 as reservas de ouro flutuaram entre 10% a 60% do total da massa monetária.
Mesmo nos EUA, e até 1933, as reservas de ouro tipicamente tinham um ratio de cobertura de 60%.
D. Costa
"O ouro tem um valor intrínseco pelos usos que lhe são dados, como o pão, o cimento ou outro qualquer bem e serviço."
Gostaria só de avisar que não existe o "valor intrínseco". Certo, o ouro tem valor pelos usos alternativos que as pessoas lhe dão, mas isso não torna o valor "intrínseco".
"sabendo que ao fazê-lo se irá inflaccionar [sic] artificialmente o seu valor?"
O problema no raciocínio está aqui. Não há nenhuma "inflação artificial". É perfeitamente normal que os bens, quando são usados para mais do que um fim distinto, aumentem a sua procura relativa e, portanto, o seu preço relativo. Afinal de contas, se a madeira servisse apenas para fazer estantes, era normal que o seu preço relativo fosse menos do que se servir para fazer cadeiras, camas, etc. O aumento da versatilidade de um dado bem é passível de criar, em cada indivíduo (e sempre em grau diferente), um aumento da valorização individual. Não há nada de artificial neste processo. O Mises falava, no caso do ouro (ou outros metais preciosos que também eram usados como moeda), na "procura industrial" e na "procura para moeda", que no fim eram os determinantes do preço do ouro — em conjunto com a oferta, bem entendido.
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