25 janeiro 2013

Scratching their head

“Gold gets dug out of the ground in Africa, or someplace. Then we melt it down, dig another hole, bury it again and pay people to stand around guarding it. It has no utility. Anyone watching from Mars would be scratching their head.” (Warren Buffett)




Um bom sistema de trocas é aquele que garante que a escassez relativa e preferências por cada um dos bens e serviços trocados estão apropriadamente representados no sistema de preços relativos. O ouro tem um valor intrínseco pelos usos que lhe são dados, como o pão, o cimento ou outro qualquer bem e serviço.
A circulação do ouro como moeda gera a necessidade entre os agentes económicos de deter ouro, não por algum tipo de preferência em relação à mercadoria, mas por ser a única forma de trocar bens e serviços. O valor relativo do ouro sobe, não por qualquer alteração de preferência em relação a essa mercadoria, mas pelo simples facto de ser usado como moeda. Na indústria irão procurar metais alternativos ao ouro para o fabrico dos seus produtos porque o ouro se tornou mais caro; mulheres optarão por prata quando compram jóias.
Em suma, poder-se-à basear um sistema de trocas numa mercadoria, sabendo que ao fazê-lo se irá inflaccionar artificialmente o seu valor? Será que a existência de um meio único de troca tem que ter como custo, a realocação de recursos e alteração de preferências provocada pelo aumento artificial do valor da mercadoria-moeda?
Com o papel, esse problema não existe: dificilmente a produção de notas bancárias tem algum impacto no seu preço. Não existe qualquer alteração de preferências ou realocação artificial de recursos.

2 comentários:

Anónimo disse...


Caro Carlos Pinto,

Quase nunca existiu um sistema padrão-ouro com 100% de convertibilidade.
Por exemplo, em Inglaterra entre 1700-1914 as reservas de ouro flutuaram entre 10% a 60% do total da massa monetária.
Mesmo nos EUA, e até 1933, as reservas de ouro tipicamente tinham um ratio de cobertura de 60%.

D. Costa



L. Vales disse...

"O ouro tem um valor intrínseco pelos usos que lhe são dados, como o pão, o cimento ou outro qualquer bem e serviço."

Gostaria só de avisar que não existe o "valor intrínseco". Certo, o ouro tem valor pelos usos alternativos que as pessoas lhe dão, mas isso não torna o valor "intrínseco".

"sabendo que ao fazê-lo se irá inflaccionar [sic] artificialmente o seu valor?"

O problema no raciocínio está aqui. Não há nenhuma "inflação artificial". É perfeitamente normal que os bens, quando são usados para mais do que um fim distinto, aumentem a sua procura relativa e, portanto, o seu preço relativo. Afinal de contas, se a madeira servisse apenas para fazer estantes, era normal que o seu preço relativo fosse menos do que se servir para fazer cadeiras, camas, etc. O aumento da versatilidade de um dado bem é passível de criar, em cada indivíduo (e sempre em grau diferente), um aumento da valorização individual. Não há nada de artificial neste processo. O Mises falava, no caso do ouro (ou outros metais preciosos que também eram usados como moeda), na "procura industrial" e na "procura para moeda", que no fim eram os determinantes do preço do ouro — em conjunto com a oferta, bem entendido.