17 abril 2010

as «verdades» da razão

Um dos problemas maiores das teses que o Pedro aqui tem vindo a defender está em ele as sustentar numa «Verdade» à qual chegou pelos mecanismos da razão.

Trata-se de uma atitude cartesiana, típica do espírito das «Luzes» que o Pedro tanto critica, embora incorra no seu vício principal: o de que a «Verdade», a «Verdade» maior e, consequentemente, todas as outras, estão ao alcance da razão soberana do homem.

Além do mais, o Pedro tem fundado a origem do Liberalismo Clássico nas «Luzes», o que apenas temporalmente estará correcto. O liberal que mais prezo, a quem considero devida a teorização mais completa, diversificada e coerente do liberalismo, foi Hayek, e Hayek construiu as ideias estruturantes do seu pensamento, a saber, as ideias de «mercado», ou da «Grande Sociedade», e de «ordem espontânea» a partir de uma postura anti-racionalista. Eu sei bem que há liberais que, ao contrário de Hayek, exaltam a «deusa», como é o caso de Rand e de Rothbard, mas apesar de os estimar e de gostar de muito do que escrevem, não os considero verdadeiros liberais clássicos, mas defensores desordenados (e muitas vezes equivocados) de uma ideia de liberdade.

O perigo da razão, enquanto instrumento cartesiano, é que nos pode levar a muitas «verdades» de sentido diferente. E se a aplicarmos à «Verdade» última, à grande «Verdade», então, decididamente, a razão, por si só, não chega, e não deve ser utilizada como argumento, até porque facilmente outros, tanto ou mais racionais, se lhe poderão opor. Aí, acabamos a discutir com o Dawkins, a confrontar a nossa «Verdade» com as «verdades» dele, pondo-as assim a um mesmo nível. É, pois, necessário ter fé e deixar a razão para outras tarefas menores.

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