26 fevereiro 2009

intolerância


Eu pretendo neste post responder à mesma questão do post anterior, mas agora na forma inversa: O que acontece a uma sociedade P que decide adoptar as instituições da sociedade C, que são as instituições de um cesarismo esclarecido - poder pessoalizado, supremo e absoluto, censura, organização corporativa da sociedade? Por outras palavras, o que acontece à sociedade P que decide tornar-se uma sociedade C?

A resposta, em termos gerais, é idêntica à anterior: aquilo que de bom existe na sociedade C vai tornar-se mau na sociedade P, na realidade, o melhor da sociedade C vai tornar-se o pior da sociedade P; e pior da sociedade P, que até aí permanecia privado e discreto, vai passar a ser exibido em público, reunindo nesta sociedade aquilo que de pior existe em cada uma.

Sob certos aspectos já respondi à questão formulada em posts anteriores. Assim, já demonstrei que a classe dos professores, que é a elite da sociedade C, se converte na classe intolerante e destruidora que conduz à ruptura da sociedade P. Mostrei também que o sistema de educação, em que assenta a sociedade C, é o sistema por onde se desmorona a sociedade P. O meu propósito neste post é o de analisar um ponto específico que é o de saber o que acontece na sociedade P quando ao povo se retira a liberdade de expressão e se institui a censura, que é uma instituição típica da sociedade C.

Acontece intolerância pública. Como defendi em post anterior, aquilo que distingue e elite do povo na sociedade P é a sua sabedoria. É esta capacidade da elite para transmitir ao povo aquilo que está certo e o que é verdade, protegendo o povo do erro que resulta da sua ignorância generalizada, que permite à sociedade P aparecer em público, na sua forma pura, como uma sociedade conhecedora.

Porém, quando se retira ao povo a liberdade de expressão, e se institui a censura, a verdade deixa de poder emergir vitoriosa do confronto com o erro. Não é mais possível distinguir o verdadeiro do falso, o justo do injusto, porque só uma das partes é admitida na contenda. Apenas uma das partes litigantes passa a possuir expressão pública, e é ela que ganha a contenda, adquirindo o estatuto público de verdade. A intolerância fica instalada.

Esta intolerância manifesta-se em público de diferentes maneiras, pela rejeição de opiniões e comportamentos divergentes, pela discriminação explícita em que aqueles que não partilham a verdade são excluídos da sociedade, pela supressão de todas as instituições que possam ser fontes alternativas da verdade, pela perseguição dos dissidentes até ao esmagamento total.

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