03 fevereiro 2009

benefícios do comércio livre


Admitamos que os chineses vêm para Portugal, em número igual aos portugueses - dez milhões. E que substituem os portugueses em todas as actividades que estes desempenham, por metade do salário. Todos os portugueses perdem o emprego. Os bens e serviços passam agora a custar metade. Este é o exemplo rematado dos benefícios do comércio livre - os portugueses dispõem agora de todos os bens e serviços a metade do preço.

Mas para que lhes serve se, estando todos desempregados, nenhum deles tem dinheiro para os comprar?
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O Princípio da Vantagem Comparativa, formulado pelo economista inglês David Ricardo, ainda hoje constitui o argumento principal para a defesa da liberdade comercial entre as nações. Na essência, o Princípio diz que as populações de dois países beneficiam ambas se cada um deles se especializar na produção do bem em que é relativamente mais eficiente, e ambos estabelecerem entre si um regime de trocas livres.
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Na sua operatividade, o Princípio da Vantagem Comparativa implica desemprego em cada um dos países, naqueles sectores em que cada um deles é comparativamente ineficiente. Para que o ditame do Princípio se cumpra - as vantagens para ambos os países resultantes da especialização e da troca livre - é necessário que algumas hipóteses de base que estão implícitas no Princípio se cumpram - a saber, que os trabalhadores desempregados em cada país possuam mobilidade para trabalharem noutro sector ou até mudarem de cidade, e que existam oportunidades de emprego em algum outro sector.
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Numa situação de crise económica - como aquela que atravessamos - não há oportunidades de emprego praticamente em nenhum sector. E quanto à mobilidade dos trabalhadores - profissional, geográfica ou ambas - existem países onde, por virtude da sua cultura, ela é mínima (vg., Portugal vs. Inglaterra ou EUA). Não se cumprindo estas condições de base, o Princípio da Vantagem Comparativa perde efeito.
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Na realidade, a melhor maneira para segurar o nível de vida da população num período de crise económica é o proteccionismo - e tanto mais quanto menos mobilidade existir na sua força de trabalho.

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