25 janeiro 2009

vinha mesmo a calhar


Os grandes bancos ingleses estão à beira do colapso e o mesmo acontece com a economia inglesa. As autoridades estão em pânico e sem saberem o que fazer, depois de esta semana terem anunciado um segundo pacote de medidas, sobretudo de ajuda aos bancos, no valor de £500 mil milhões. O mercado não acreditou no novo pacote e as acções dos bancos ingleses foram severamente penalizadas.

Os ingleses consideram agora, para além de recorrerem ao FMI, uma medida de política monetária, conhecida eufemisticamente por Quantitative easing, mas que é uma medida desesperada e de última instância - imprimir libras, sem qualquer contra-reserva de valor, e lançá-las na economia. O risco desta medida é que acelere a queda da libra nos mercados cambiais, e daqui a pouco a libra não valha nada, e assim também a economia inglesa.

A libra foi durante os séculos XVIII e XIX, e até à Segunda Guerra Mundial, a principal moeda de reserva internacional. A libra era a moeda que servia de reserva às emissões das moedas nacionais por parte dos outros países do mundo. Assim aconteceu em Portugal até aos anos 40, em que a emissão de escudos por parte do Banco de Portugal era feita contra reservas em libras guardadas no banco central. Hoje, a moeda de reserva internacional dominante é o dólar americano (64%), seguida do euro (26%), ocupando a libra um distante e quase insignificante terceiro lugar (menos de 5%).

Nas condições económicas actuais da Grã-Bretanha, aquilo que de melhor lhe poderia acontecer seria aumentar a importância da libra como reserva internacional, levando países a adoptar a libra como moeda, ou simplesmente levando-os a adoptar de novo a libra como reserva na emissão das suas moedas nacionais. Este facto criaria uma procura internacional para libras capaz de absorver a política de Quantitative easing e evitar o colapso da libra. Neste aspecto, o desmembramento da zona euro vinha mesmo a calhar. Saindo do euro e criando as suas moedas nacionais, alguns países voltariam a utilizar o dólar e a libra nas suas reservas.

E o que é necessário para desmembrar a zona euro? Minar alguns países - sobretudo os mais frágeis, que são, por esta ordem, a Grécia, a Irlanda, Portugal, Itália e Espanha (ver aqui). A longa tradição que os ingleses possuem de influenciar e manipular a política portuguesa que vem, pelo menos, desde o século XVIII, tornaria Portugal um alvo preferencial. Conhecendo perfeitamente a nossa cultura, conhecendo os cabeças de vento que nós somos na vida pública (política, jornalística, etc.), os ingleses sabem que, se acenderem um fósforo, nós próprios nos encarregaremos de atear a fogueira.

Pode ser isso o que está a acontecer com o caso Freeport.

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