15 setembro 2008

a minha humilde contribuição

Este comentário do JCD leva-me a escrever algumas linhas sobre o que por aqui se tem passado nos últimos dias, e a contribuir, desse modo, humildemente para o lavar de roupa suja que, nos últimos dois anos, tem havido entre alguns autores do Blasfémias e do Portugal Contemporâneo.

Escreveu ele: «Também me lembro que o Rui até abandonou temporariamente o Blasfémias, na sequência de um post do Carlos sobre uma pessoa de fora.

É por isso que manifesto a minha surpresa por ver num blogue fundado por um dos bloguers que mais admiro, este chorrilho de insultos a um seu amigo pessoal.

Agora, vou apenas constatar até quando vai durar a minha surpresa.».


Eu compreendo muito bem a intenção da farpa do JCD, como sempre muito oportuno a metê-las. Mas não me afecta por aí além, e, se ele estiver interessado em saber, não são sequer as supostas questões de ordem moral, que insinua no comentário, que me fazem escrever este post. Pela parte que me toca, aprendi já há muitos anos, há minha custa, é certo, a enfrentar os problemas que a vida me foi trazendo, e não tenho por hábito colocar-me a latere deles. Mas tenho, menos ainda, o hábito de me colocar a latere dos problemas dos outros para lhes dar bons e avisados conselhos.

O que me fez escrever este longo post foi a intenção de explicar ao JCD o que me levou a sair do Blasfémias, há quase dois anos, para que ele JCD perceba por que razão nada justificaria que eu saísse agora do Portugal Contemporâneo. Há-de o JCD admitir que me retirei do Blasfémias de forma silenciosa e quase circunspecta, sem ruído de espécie alguma, sem barulho, o que bem poderia ter feito, dado tratar-se de um blog que ajudei a fundar e onde estive durante muito tempo. Procedi assim por respeito aos leitores e aos amigos que lá tinha e tenho. Quer os que ficaram, como o CAA, quer os que partiram, como o Pedro Arroja.

Neste ponto da conversa, é útil que o JCD perceba que, nessa altura, eu não abandonei o Blasfémias por o Pedro Arroja ter sido «posto a andar» de forma, digamos suavemente, muito indelicada. O Pedro é um homem adulto, maior e vacinado (já o era, ao tempo), e, por mais que me tenha desagradado o modo como ele lá foi tratado, ele sabe bem defender-se, como, aliás, está agora bem à vista. Como, também, não foi por causa do Carlos ter publicado o célebre post do copo de whisky, cuja memória inútil o JCD avivou no seu comentário, que eu saí uma primeira vez do Blasfémias e fundei, na altura, este Portugal Contemporâneo. Também a Dr.ª Constança Cunha e Sá é maior e vacinada (e já o era, nessa altura), e sabe defender-se eximiamente, como, aliás também, demonstrou imediatamente a seguir, com o saudoso e infelizmente desaparecido Espectro. As razões deste último caso, pode o JCD perguntá-las particularmente ao Carlos, que lhas dará certamente. São assuntos privados, pelo que não os trato aqui, mas posso assegurar ao JCD que não tiveram importância de maior, razão pela qual regressei, algum tempo depois, ao blog. Sobre as razões da minha segunda e definitiva ruptura com o Blasfémias, quando já lá estava o JCD, posso adiantar-lhe que foram bastante mais sérias. Foram quatro e passo a expô-las, para que o JCD compreenda as diferenças.

O primeiro motivo foi epidérmico e reactivo. Deveu-se a um comentário que o próprio JCD se apressou a colocar no post de saída do Pedro Arroja, em que lhe não era particularmente simpático, e que ainda hoje recordo com algum desagrado. Incomodou-me a pressa, o tom e o facto do JCD não ter usado anteriormente da mesma frontalidade com o PA, quando ele ainda podia escrever no blogue. Depois de «morto», remetido para as caixas de comentários, o gesto fez lembrar aquelas vagas imagens que todos temos da nossa juventude dos filmes de cowboys da série Z, em que o pianista do saloon vai dar o pontapé final a um qualquer desgraçado, depois dele ter levado um enxerto de pancada. Não gostei, confesso.

O segundo foi de ordem societária e empresarial. A saída do PA e o modo de o pôr a andar do blogue foi progredindo ao longo de semanas, sem que nunca se tenha aberta e lealmente discutido entre todos as razões de tanto incómodo e as eventuais providências a adoptar. Principalmente, tê-las transmitido frontalmente ao visado, quando eu mesmo me disponibilizei para organizar um encontro entre todos, ao qual, valha a verdade, o JCD prontamente aderiu. A hipótese foi rejeitada liminarmente por alguns dos envolvidos, o que me pareceu mal. Sempre acreditei que deveria ter havido espaço a que se esclarecessem as reservas e os desagrados recíprocos, e que pelo menos se preservassem as relações pessoais, o que teria sido perfeitamente possível, mesmo que o blog perdesse algum ou alguns dos seus participantes. Achei, por isso, impróprio que a maior parte dos «sócios» do blogue não se tivesse pronunciado sobre o assunto e que a opinião dos que eram contrários a essa solução não tivesse sido ouvida e tida em conta. Por outras palavras: não participo em conselhos de administração para fazer figura de corpo presente. E estou francamente convencido que, se naquela altura as coisas têm sido frontalmente colocadas a todos, a opinião maioritária não seria a que vingou, independentemente das consequências que isso poderia ter tido no blog, também elas merecedoras de consideração antecipada.

O terceiro motivo foi achar que um blogue liberal não pode condicionar a opinião dos seus autores, sobretudo quando se tratam de matérias de consciência íntima, como a religião. O PA fora convidado a escrever no blogue e fora-lhe dito que o faria com inteira, absoluta e incondicionada liberdade. Ele não a teve. Como anteriormente a não tivera o André Azevedo Alves, que saiu de blog por divergências de cariz religioso. Isto, num blog liberal, vou ali e venho já... Se, como foi dito na altura, tinha havido um erro em convidar para o Blasfémias um autor que, segundo alguns diziam, já não era liberal, cabia-nos ter o bom senso de o respeitarmos, de respeitarmos a sua opinião, em última instância, de nos respeitarmos como supostos liberais que supostamente todos éramos, e deixá-lo escrever com a liberdade que lhe tínhamos prometido. Ora, isso esteve longe de acontecer, como é sabido.

O quarto e último motivo, foi não ter encontrado nunca uma genuína vontade de conciliação com o Pedro Arroja, assim que começaram as zaragatas. Devíamos tê-lo tentado, como gente de boa fé que todos supostamente éramos, ao ponto de termos admitido participar conjuntamente num mesmo espaço mediático. Quando me comecei a aperceber que as coisas podiam descambar, deu-se a circunstância de se realizar o almoço de Cantanhede, onde estiveram presentes todos os colaboradores do blog. O JCD lembrar-se-á seguramente de eu ter insistido, nesse almoço, frontalmente e na presença de todos, para que fossem colocados em cima da mesa os eventuais melindres pessoais que pudessem já existir entre alguns dos presentes. Insisti nisso por duas vezes. O JCD lembrar-se-á seguramente, também, da resposta que tive. Ora, ainda que fosse para romper com quem quer que fosse – com o Pedro Arroja, por exemplo – todos teríamos ficado a ganhar se tivéssemos civilizadamente tratado do assunto naquela mesa, em vez de o termos tratado publicamente, ao longo destes dois anos, do modo desagradável com que foi tratado. Os resultados estão bem à vista, ainda que só agora com todo o seu fulgor...

Posto isto, uma palavra sobre o chavascal dos últimos dias. Só pela excessiva ingenuidade do JCD ele poderá imaginar que esta troca de mimos entre o Carlos e o Pedro começou hoje. O PA foi, enquanto esteve no Blasfémias, várias vezes, eu diria, avacalhado. Entre os avacalhanços mais impressivos, lembro-me dum post ilustrado com uma fotografia da Lurdes Pintasilgo e da utilização, julgo que repetida, da expressão «grossa capa de ignorância» (era esta expressão, não era JCD?) com que foram qualificadas algumas das suas opiniões. Na altura, disse pessoalmente ao Carlos o que pensava do assunto e do que julgava viria a ser o desfecho da cegada. Pelo que vejo ultimamente, não me enganei muito.

A troca de razões é, pois, antiga, é obviamente pessoal, independentemente das questões substantivas que um e outro possam alegar reciprocamente. Quando um chama «ignorante» e «tolinho» ao outro, ou o compara a um patusco Prof. Magalhães (estou a pensar seriamente consultá-lo para ver se ele tem solução para isto), e o outro responde com os simpáticos epítetos de «palerma», «badameco» e «parvalhão», as coisas são obviamente pessoais e devem ser pessoalmente resolvidas, sem ingerência de terceiros: ao estalo, à chapada, ao murro e ao pontapé, ou pela troca de posts insultuosos, convenhamos que ainda assim o meio mais pacífico de todos.

Por fim, subsiste a questão do meio que o PA tem usado para invectivar o Carlos, que é o Portugal Contemporâneo, e que parece tanto estar a incomodar o JCD, embora não creia que ele se tenha igualmente incomodado quando o Carlos usou o Blasfémais para invectivar o Pedro. Trata-se de um blog que fundei e onde colaboramos, ao todo, quatro autores. Considero-me amigo de todos e não encontro, entre eles, nenhum «tolinho» ou «ignorante». Honra-me muito, aliás, que qualquer um deles tenha aceitado escrever comigo no mesmo blog. Mas não me anima especialmente editar posts entre três ou quatro fotografias seguidas do Carlos, que eu estou longe de considerar um «badameco», um «parvalhão» ou um «palerma». Escrevo para me divertir e para trocar opiniões e essas são, para mim, as duas finalidades que me movem a participar num blog. Provavelmente, enquanto os ânimos não acalmarem, escreverei pouco, e espero sinceramente que acalmem, a bem de todos os envolvidos, já que a situação não beneficia nenhum. Mas não beneficia há dois anos e não apenas há dois dias, como o JCD parece crer. No estado em que as coisas estão, provavelmente zangar-se-ão os dois comigo, o que não tem mal nenhum. Por mim, não me zangarei com nenhum.

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