O preço do petróleo encontra-se hoje a desvalorizar cerca de 2% e, no NYMEX em Nova Iorque, já está na casa dos 125 dólares por barril. Dez dólares abaixo do máximo intradiário registado em Maio. Como sempre acontece, assim que o mercado começa a parecer fácil eis que surge a reviravolta e os "mãos fracas" - aqueles que compraram o máximo e que agora coçam a cabeça na dúvida sobre o que fazer. Porque, apesar da recente inversão do preço, as notícias continuam a ser favoráveis à tendência de alta. E os sinais de alarme permanecem. Por exemplo, na aviação civil, as principais transportadoras começam a sugerir formas criativas de passar custos para os passageiros. Entre as várias propostas, há de tudo. Desde voar mais devagar. Reduzir o número de aviões que compõem a frota. E, imagine-se, até já se discute a possibilidade de estipular o preço do bilhete em função da peso do passageiro e sua respectiva carga! Mas, voltando ao preço do petróleo, aqui vai a minha análise.
Primeiro, os fundamentais. Vivemos um choque do lado da procura, ao contrário da crise dos anos 70 que constituiu um choque do lado da oferta. Portanto, esta é de mais difícil resolução. Hoje em dia, de acordo com o EIA, a produção e o consumo mundial de petróleo estão equilibrados nos 85 milhões de barris por dia. Há uns anos atrás, em 2003, a procura estava no 80 milhões de barris - abaixo da produção. E, para 2030, o EIA estima que a procura de petróleo atinja os 118 milhões de barris por dia, com a China a apresentar um crescimento anual no consumo de 4%. Por sua vez, em termos relativos, o EIA estima que a oferta permanecerá pouco alterada.
Segundo, a especulação no sector. Mais uma vez, como também sempre acontece em tempo de crise, os especuladores estão a ser apontados como os principais culpados pela escalada dos preços. Nim. As estatísticas, mencionadas anteriormente, evidenciam que existem boas razões que sustentam a subida dos preços. Quanto ao eventual efeito especulativo, não é superior ao que existe noutros sectores de mercado. Além disso, a existência de instrumentos derivados, em particular futuros sobre o preço do petróleo, permite reduzir o impacto especulativo. Ao contrário do que seria de esperar. Como? Aumentando as margens de negociação associadas aos futuros sobre petróleo cotados em Nova Iorque e em Londres. Actualmente, quem quer negociar futuros sobre o crude no NYMEX apenas tem de disponibilizar, junto do seu corretor, cerca de 7% do valor do contrato (igual ao que se passa, por exemplo, na negociação de futuros sobre o S&P500). A fixação administrativa de novos mínimos para as margens exigíveis permitirá restringir a alavancagem - e respectivo efeito especulativo - associado à negociação de títulos sobre o petróleo. De resto, não deixa de ser curioso que, ainda hoje, o conhecido especulador George Soros tenha sugerido isto mesmo.
Terceiro, a fiscalidade sobre o sector. O relatório hoje divulgado pela Autoridade da Concorrência relativo ao processo de formação do preço da gasolina sem chumbo 95 é ilustrativo. Os impostos representam 60% do preço! 60%! Os restantes 40% são repartidos entre refinarias, vendedores e revendedores. Ou seja, nos últimos anos, o preço médio da nossa gasolina, antes de impostos, tem sido inferior ao da vizinha Espanha onde o preço, na bomba, é 20% mais baixo do que cá. Portanto, é ao Estado que os cidadãos portugueses têm de pedir contas. É o Estado que torna a gasolina mais cara do que devia de ser. E que cobra, indevida e inconstitucionalmente, impostos (IVA) sobre impostos (ISP). Isto é motivo para uma revolução contra o Estado que rouba os seus concidadãos. Enfim, confesso que não entendo a passividade da sociedade civil - não só em Portugal, mas também noutros países europeus (como a França) onde se praticam os mesmos abusos.
Quarto, o efeito cambial no sector. Nos últimos doze meses terminado em 30 de Maio, o preço do petróleo cotado no NYMEX valorizou cerca de 75% - avaliado em dólares. No mesmo período, o Euro valorizou face ao dólar 15%. Contudo, nos últimos dois meses - Abril e Maio - o Euro deu mostra de alguma fragilidade face ao dólar e no período bimestral desvalorizou 1,5% face à divisa norte-americana. Nestes dois meses, o petróleo manteve a tendência altista e registou uma mais valia de 24%. Ou seja, na realidade, para nós europeus, entre o final de Março e 30 de Maio, o preço do petróleo no mercado internacional aumentou 25,5%. E tem sido nestes últimos dois meses que a contestação em redor do preço dos combustíveis mais se tem acentuado.
Se o Euro continuar frágil face ao dólar e se a escalada no preço do petróleo se mantiver, então, caros leitores, preparem-se para tempos ainda piores. Felizmente, não antecipo que tal venha a suceder. Não só acredito em novos mínimos no dólar - para depois sim começar a comprá-los. Como também acredito que a valorização exponencial do petróleo está para acabar. Nos últimos doze meses, houve 9 positivos e apenas 3 negativos, respectivamente. Ou seja, muito acima da relação histórica de 1,3 para 1. A tudo isto junte-se a iminência de uma recessão mundial e, voilá, arrisco que nos próximos 2 ou 3 meses não veremos o petróleo de novo a 135 dólares. Nem a 150. Nem a 200. Na minha opinião, o preço de equilíbrio será 120. Cinco dólares abaixo da cotação actual.
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