06 março 2008

Marretas


Na minha actividade profissional, investimentos em bolsa, é fácil encontrar opiniões diametralmente opostas. Há até quem diga que os mercados financeiros são um jogo de soma nula, pois para cada posição compradora existe sempre a respectiva contraparte vendedora. O ganho de um é a perda do outro. Assim, é tanto mais interessante assistir a uma troca de argumentos entre gestores diferentes quanto maior for a discordância entre os dois. Sobretudo, quando nenhum dos dois concede derrota "a priori". Mais tarde, algum há-de ter razão, mas o mais provável é que entretanto estejam de novo engalfinhados noutra contenda qualquer. Ainda há pouco troquei um email com dois colegas de casas concorrentes e estavam piores que os marretas. Desliguei o Outlook - antes que fosse tarde!

Habitualmente, só presto atenção aos restantes operadores quando eu próprio tenho convicções fortes. Parece um contrasenso, mas não é. Nos mercados financeiros, como em tudo na vida, há gente que analisa muito bem e outros que o fazem muito mal. A prazo, só existe uma coisa certa: todos acabarão por ter os seus fracassos. E, também, os seus sucessos. Só não há pessoas infalíveis. Ao fim de oito anos nesta profissão, posso garantir-vos que já vi e experimentei um pouco de tudo. Daí a importância de manter um espírito independente, pensar pela nossa própria cabeça e não nos deixarmos levar por aquilo que os outros dizem.

Contudo, existem opiniões que não dispenso e que gosto de confrontar com as minhas próprias perspectivas. Em Portugal, infelizmente, ainda existe a ideia de que operadores de casas concorrentes não se devem falar entre si. Acho isso um disparate. É possível discutir o que se está a fazer sem descrever como se o está a fazer. As conversas que tenho com outros gestores, que partilham as dores do ofício e por quem tenho particular estima profissional, faço-as, para encontrar sinais amarelos que contribuam para atenuar convicções excessivas que eu próprio possa ter. Mas nunca para mudar de opinião. Pelo menos, não sem antes a testar no mercado. Marreta? Provavelmente. Nisso também somos todos iguais.

Sem comentários: