18 março 2006

ptn

A minha conhecida incapacidade cognitiva impediu-me de compreender, até ontem, em que consiste o famoso «Plano Tecnológico Nacional».
Acresce que tenho, também, uma certa desconfiança rural sobre o mundo tecnológico. Não direi, como alguns fundamentalistas religiosos, que por detrás da ciência e da tecnologia se esconde o mafarrico, mas penso sinceramente que para espíritos limitados como o meu, cada inovação é uma complicação: só serve para atrapalhar a minha primária existência e reforçar os enormes e visíveis complexos de inferioridade intelectual que me caracterizam.
Ontem, precisamente, por estrito dever de ofício, assisti a uma conferência sobre o assunto que me fez perceber finalmente o que pretende o nosso governo e em que consiste o «ambicioso Plano».
Posso dizer que o PTN (as siglas em maiúsculas são apropriadas para este efeito) tem um passado, um destino e uma ética: principiou no célebre Conselho Europeu de Lisboa de 2000, com a aposta no reforço da «Europa social», e regressou em 2005 pela mão do Programa Nacional de Acção para o Crescimento e o Emprego 2005-2008, apresentado à Comissão Europeia pelo governo português; tem por objectivo criar um «Portugal (de) Novo», que assentará na trilogia mística do CTI (Conhecimento - Tecnologia - Inovação); e legitima-se no valor moral e político do crescimento económico e do emprego.
Lidas as linhas gerais do PTN, facilmente se compreende que ele resulta da convicção de que cabe ao governo e aos poderes públicos a criação de condições sociais, económicas e culturais para o desenvolvimento do país. Apesar de pretender implementá-lo em colaboração com a «sociedade civil» e as suas estruturas, a verdade é que a esmagadora maioria das medidas são, como aqui se pode constatar, de pura intervenção governamental. Em síntese, o governo quer «qualificar os portugueses para a sociedade do conhecimento», quer «vencer o atraso científico e tecnológico», e quer «imprimir um novo impulso à inovação», em vez de permitir que os indivíduos, as empresas e o mercado o façam e lá cheguem pelos seus próprios meios. Para isto, o governo e o gabinete do plano criarão bolsas, postos de trabalho, repartições públicas, bibliotecas digitais, conteúdos culturais (?), turmas e cursos de inglês, redes de cinema digital e de telemática de informação, vales (?) de ciência e tecnologia, institutos, fundações, etc., etc, etc.
Sacudida a poeira, em última análise o PTN assenta numa mesma filosofia que tem como antecedentes próximos o célebre «copo de leite» distribuido nas escolas primárias pelo Engº Roberto Carneiro (que tiraria gerações de portugueses do obscurantismo e os lançaria nas «luzes» da civilização e do progresso) e a não menos famosa «paixão pela educação» do Engº Guterres. Em comum estes três arrojados planos partilham dois aspectos: não servem para nada, a não ser para gastar recursos que saem do PIB, e foram concebidos por engenheiros.

4 comentários:

Anónimo disse...

...

Anónimo disse...

É fundamental que o ensino, basico e secundario se modernizem.

O que quero dizer com isso:

Que se forme mais tecnicos em areas tecnicas do que em humanisticas e seus derivados.

Hoje, ontem, o Ingles é uma lingua universal. Na Suecia, o basico, a criançada tem ingles, dá matrizes, tem aulas diariamente e não há faltas de professores.

Ja reparou, que 70% dos professores são da area de letras e que o rendimento deles é qquase nulo, mal sabem escrever e fazer uma conta.

Sabe isso?

Sabe, por acaso, que há perto de 200 mil professores para um "volume" de 800 mil estudantes e nunca ha professores, numca ha escolas e trabalham muito 22h por semana.

Concorda com isso?

Concorda que se reformam aos 50/55 anos, enquanto no resto da europa é aos 62/65 anos.

Tem que mexer neste ensino, ou não?

Anónimo disse...

meu amigo, se tem um espirito rural, é melhor não escrever sobre politica nem sobre o futuro...é melhor ir plantar batatas

Bruxa de Endor disse...

Perdoem-me os anónimos ou o anónimo (a cobardia desta malta dá origem a interrogações destas...)mas quer-me parecer que você(s) não leram(leu) o artigo tal como ele está escrito...

Quanto aos argumentos aqui apresentados, eu que não sou professora mas que já fui e continuo a ser aluna, não percebo que raio de melhorias na educação é que estão a ser feitas...

Não há ano em que não mudem as regras, não há ano em que não mudem os curriculos, não há ano em que não façam inovações e não há ano que não dê trapalhada!

Quanto às obscenas regalias dos professores, eu pergunto-me que espécie de inteligência é a vossa em que só conseguem invejar e não percebem que o mal não está no facto de os professores terem regalias mas no facto de vocês não as terem também...

Vêm dizer que está mal que as pessoas se reformem aos 50/55 e que se deviam reformar aos 62/65... Francamente é preciso ser pouco inteligente para proferir uma parvoíce desta natureza! Eu por mim estou bem servida porque tenho uma das poucas profissões em que não me é permitido reformar e que quanto mais velha for mais trabalho terei, também não me importo com isso porque gosto do que faço, mas não percebo como é que os Portugueses chegaram a este ponto em que a inveja fala mais alto que o desejo de viver com qualidade em conjunto!

Voltando ao artigo apresentado se o Sr. Primeiro Ministro quer fazer um plano tecnológico não percebo porque não começa no essencial, facilitar e facultar a TODAS as crianças o acesso à Internet e fazer um acordo com um Gates qualquer para criar uma linha de computadores a baixo custo para que cada criança possa ter um em casa! Mas acho que a PT, o Clix e a Oni não iam gostar desta ideia e o Gates também não... por isso vamos malhar nas escolas e nos professores até dar cabo deles e até que as crianças percam o direito de saber falar e escrever Português... Boa Sócrates! Boa Anónimo(s)!