CANDIDE ou o erro de Voltaire
Voltaire escreveu o seu famoso romance filosófico “Candide” (ou o Optimismo) em 1759, influenciado pelo terramoto de Lisboa de 1755 e pelo debate filosófico que se lhe seguiu.
De um lado estavam os optimistas, na linha do pensamento de Leibniz (1646 – 1716), que acreditava que tudo o que acontecia no mundo era pelo melhor e que no fim iria ficar tudo bem e do outro lado os pessimistas, cépticos do racionalismo absoluto e mais focados na observação do mundo e no sofrimento humano. Arthur Schopenhauer (1788–1860) chegou mesmo a afirmar que vivemos no pior dos mundos possíveis.
Voltaire retrata o seu personagem Candide como um jovem inocente, expulso do palácio onde vivia por se apaixonar pela filha do barão Thunder-ten-Tronckh e que, no mundo real, fica exposto a todas as tragédias e males possíveis e imaginários.
Desde a guerra, com a sua ‹‹carnificina heróica››, passando por catástrofes naturais, como o terramoto de Lisboa de 1755 e pura maldade traduzida por assassínios, violações e roubos, Candide é confrontado com os aspectos mais sórdidos da natureza humana e conclui que não há razão para o optimismo Leibniziano.
Em Candide, o optimismo é representado pelo personagem Pangloss e o pessimismo por Martinho (Martin). A certa altura do texto, Candide pergunta a Martinho:
— Acredita que os homens se tenham sempre massacrado, como fazem hoje?
— Que tenham sido sempre mentirosos, trapaceiros, pérfidos, ladrões, fracos, inconstantes, covardes, invejosos, glutões, bêbados, avarentos, ambiciosos, sanguinários, caluniadores, debochados, fanáticos, hipócritas e tolos?
A resposta justifica a causa do pessimismo de Martinho. Os dois últimos parágrafos do livro expressam a conclusão última de Candide.
‹‹Pangloss dizia por vezes a Candide: “Há uma concatenação de acontecimentos neste melhor de todos os mundos possíveis: pois se não tivesses sido expulso de um magnífico castelo por amor à senhorita Cunegundes: se não tivesses sido posto na Inquisição: se não tivesses atravessado a América: se não tivesses esfaqueado o Barão: se não tivesses perdido todas as tuas ovelhas do belo país do El Dorado: não estarias aqui a comer cidras em conserva e pistácios”.
“Tudo isso está muito bem”, respondeu Candide, “mas vamos cultivar o nosso jardim”››.
Candide é um romance filosófico que se mantém actual, penso, porém, que a sua conclusão está errada. Tratar da nossa pequena vida, do nosso jardim, não é suficiente para nos garantir qualquer tranquilidade.
A razão principal é que não estamos sozinhos no jardim, o Estado entrou pelas portas dentro das famílias, deitou-se na cama com o casal, ocupou-se da educação dos filhos e nem do jardim, propriamente dito, nos deixa cuidar.
É necessário sermos activistas e lutarmos pela nossa própria defesa e liberdade porque sem liberdade nunca teremos segurança e nunca poderemos defender a vida e a propriedade.
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