21 dezembro 2021

Dez Anos (2)

 (Continuação daqui)



2. Ao amigo

O PS e o PSD governam o país há 45 anos e repartem entre os dois o poder político e os privilégios económicos que o poder traz consigo. Aos olhos de um economista, o mercado político em Portugal é um duopólio em que os duopolistas PS e PSD usam uma estratégia típica desta condição de mercado conhecida como colusão (cf. aqui) (acordos ou conluios explícitos e implícitos com vista a tirarem benefício para si próprios e prejudicarem terceiros). 

Se fossem duas empresas a comportar-se assim, os seus responsáveis já estariam na cadeia por grossa violação das regras da concorrência que prejudica seriamente os consumidores, os quais, no mercado político são os cidadãos em geral e, no caso em apreço, sobretudo crianças.

Em lugar de se guerrearem permanentemente pela conquista de quota de mercado um ao outro - o que só resultaria em prejuízo para ambos - os duopolistas dividem o mercado entre si, de maneira que nenhum deles se mete no espaço do outro, e de tal sorte que cada um deles pode, assim, gozar tranquilamente da sua quota de mercado.

Na direção das principais instituições do Estado - CGD, Banco de Portugal, Tribunal Constitucional, etc. -  PS e  PSD alternam na presidência. No caso do Tribunal Constitucional, o mais alto tribunal do país, eles repartem ciosamente a instituição entre os dois. No mercado das obras públicas, cada um tem as suas "quintas". O Hospital de São João é conhecido por ser uma "quinta" do PSD.

Uma das razões por que as crianças doentes estiveram dez anos internadas em barracões metálicos foi porque demorou muito tempo - o período da troika contribuindo para isso - até que o PSD estivesse em condições de deitar mão à obra e exercer os "seus direitos" na "sua própria quinta".

Aconteceu em 2019 precisamente no ano em que fazia uma década que as crianças estavam internadas em contentores metálicos.

Foi assim a adjudicação da nova ala pediátrica do HSJ à construtora Casais:

1. A administração do HSJ nomeou um grupo de trabalho presidido pelo Eng. Joaquim Poças Martins - uma conhecida figura do PSD de V. N. de Gaia e do norte do país (cf. aqui) - para escolher a empresa que iria fazer a obra: cf. aqui.

2. Julgando pelas fotos publicadas nos jornais da altura, os outros membros do grupo de trabalho eram todos funcionários do HSJ, que faziam aquilo que a administração lhes mandava fazer como, por exemplo,  dizer que sim às escolhas do Eng. Poças Martins: cf. aqui.

3. O grupo de trabalho presidido pelo Eng. Poças Martins  convidou 14 empresas para se apresentarem a concurso: cf. aqui.

4. O Eng. Poças Martins é presidente da Ordem dos Engenheiros da Região Norte: cf. aqui.

5. O Eng. Poças Martins fez-se eleger para esse cargo numa lista afecta ao PSD e apoiada, em Braga, pelo Eng. António Carlos Fernandes Rodrigues, que é hoje o representante do Eng. Poças Martins nesse distrito: cf. aqui.

6. O Eng. António Carlos Fernandes Rodrigues é também presidente do conselho de administração da construtora Casais, sediada em Braga: cf. aqui.

7. Quem ganhou o "concurso" organizado pelo grupo de trabalho presidido pelo Eng. Poças Martins para fazer a ala pediátrica do HSJ foi a construtora Casais: cf. aqui.

Conclusão: O Eng. Poças Martins entregou a obra ao amigo e o "concurso" foi pura simulação.

(Continua)

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