23 maio 2021

Auto-responsabilidade (4)

 (Continuação daqui)


4. Subsídio-dependência


O Canadá foi o primeiro país do mundo, ainda nos anos setenta, a criar o equivalente português do Rendimento Social de Inserção (RSI). No início dos anos 80, eu vivia no Canadá quando conheci um ex-padre português que agora trabalhava para a Segurança Social canadiana.

Era fiscal da Segurança Social e competia-lhe, entre outras funções e porque falava a mesma língua, fiscalizar o RSI atribuído às famílias portuguesas de imigrantes. Lá, como agora cá, o montante do RSI dependia da dimensão do agregado familiar.

Então, acontecia-lhe num dia visitar uma família que declarava ter a seu cargo 5 filhos e que recebia RSI em conformidade. Ele batia à porta, entrava, e lá estavam, o pai, a mãe e cinco crianças. No dia seguinte, visitava outra família que recebia RSI e que declarava ter quatro filhos a seu cargo. E, de facto, lá estavam um homem, uma mulher e quatro crianças, só que três dessas crianças ele já as conhecia da véspera.

Também acontecia ele visitar num dia uma família que, para além dos "filhos",  também tinha a seu cargo a avó pelo lado materno. E, de facto, lá estava a velhota. Só que, dias depois, quando visitava uma outra família que tinha a seu cargo uma avó pelo lado paterno, a velhota era a mesma.

Quando lhe perguntei qual era a solução de longo prazo para estas famílias, ele respondeu-me que não havia solução. Tinham-se tornado subsídio-dependentes, há muito que se tinham desabituado de trabalhar, e a maior parte deles nem sequer era empregável. E o pior é que, crescendo naquele meio e perante aqueles exemplos, os filhos iam pelo mesmo caminho.

Estava criada uma cultura inter-geracional de subsídio-dependência.


(Continua)

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