12 maio 2021

a cultura mendicante

A ausência mais notada na "Cimeira social" da União Europeia realizada a semana passada no Porto foi a da senhora Merkel.

Podem ter existido vários factores para a ausência, mas um pesou de certeza e, provavelmente, foi decisivo.

O adjectivo social significa, invariavelmente, pedir dinheiro sem oferecer nada em troca e, portanto, a cimeira, ainda por cima sendo Portugal o anfitrião, podia ser alternativamente chamada "A Cimeira da Pedinchice".

Ora, acontece que a senhora Merkel é filha de um pastor luterano e foi educada numa cultura luterana.

Uma das primeiras cosias que os luteranos fizeram quando se separaram da Igreja Católica foi acabar com as ordens mendicantes. Pelo contrário, os países que permaneceram católicos, como Portugal, continuaram a acolhê-las.

Para os luteranos, era inadmissível que homens válidos, a quem Deus dera força física para trabalhar e inteligência criadora para produzir, optassem por ser uns calaceiros e andassem ali pelo meio das ruas de mão estendida a pedir. 

Era inadmissível porque era um péssimo exemplo para os jovens. Que sociedade se poderia esperar no futuro perante aqueles exemplos senão uma sociedade onde predominariam os preguiçosos, os maltrapilhos e os pedinchões?

A situação tornava-se ainda mais grave porque, segundo a teologia católica, Deus abençoava os pobrezinhos. Portanto, à luz do catolicismo, aqueles pobretanas - alguns deliberadamente pobres porque nasceram ricos, como S. Francisco -, ainda por cima, eram abençoados por Deus.

Não podia ser. Quem Deus abençoava eram aqueles que faziam uso dos talentos e capacidades que Ele lhes deu para produzirem qualquer coisa de útil para a sociedade. Esta teologia protestante foi decisiva para o sentido de organização e a alta produtividade que hoje caracteriza os povos do norte da Europa, e não somente os alemães.

Eu não quero imaginar aquilo que a senhora Merkel iria sentir ao ouvir o discurso do primeiro-ministro anfitrião na cimeira do Porto: "Que tipo mais desprezível e que povo mais desprezível ele deve representar. Em lugar de utilizarem as faculdades que Deus lhes deu para serem autónomos e independentes, optam por viver de mão estendida".

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