"Comunique o despacho de acusação proferido aos arguidos nos seguintes termos:
(…)
-No caso dos arguidos de nacionalidade suíça, antes de os notificar, diligencie pela tradução do despacho de acusação nos termos que se indicarão, após o que se determinará os procedimentos notificandos
(…)"
(Despacho de Acusação do Ministério Público sobre o caso BES, p. 4116).
Na tradução deste script para inglês, se esta for a língua escolhida, já se antevê o nome do personagem principal - Richard Salted.
O argumento do filme é incrivelmente simples para um script de 4117 páginas.
Richard Salted gere um Banco, de que ele próprio é o acionista principal, de uma forma totalmente autocrática e mafiosa, com um pequeno número de capangas.
Os principais capangas chamam-se Amílcar Pires e Isabel Almeida. Existia um terceiro capanga muito importante também, chamado José Castella, mas os argumentistas (cf. aqui) demoraram tanto tempo a escrever o argumento (6 anos), que o homem morreu pelo caminho.
Paz à sua alma. O argumento segue sem ele.
O que vem a seguir é verdadeiramente impressionante.
Richard Salted e os seus muchachos conseguem enganar este mundo e o outro, os clientes do Banco, os credores, os outros administradores do Banco, e, incrivelmente, as empresas internacionais de auditoria contratadas pelo Banco e pagas a peso de ouro, e ainda os supervisores do Banco de Portugal, igualmente pagos a peso de ouro, mas estes pelos contribuintes portugueses.
Não há ninguém que escape à argúcia viciosa de Richard Salted e do seu pequeno número de capangas.
Até ao dia em que Richard Salted caiu nas mãos de uma equipa de sete procuradores do Ministério Público com uma experiência acumulada de mais de 20 anos na função de escrever scripts para filmes e telenovelas. Um deles tinha mesmo a impressionante antiguidade de 5 dias na função.
Foi o fim.
Richard Salted foi apanhado.
Vai acabar na prisão.
Mas com um script de 4117 páginas, só mesmo depois de morrer.
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