31 julho 2020

o chico esperto

A história que corre por aí acerca do Novo Banco (NB) e que foi posta a circular por um artigo do Público (cf. aqui) tem todas as probabilidades de ser falsa.

No essencial, a história diz assim. Um conjunto de activos imobiliários que estavam registados na contabilidade do NB por 600 e tal milhões de euros foram vendidos a um fundo por 300 e tal milhões. As perdas daqui resultantes (cerca de 300 milhões) foram cobertas pelo Fundo de Resolução (isto é, pelo Estado português que, maioritariamente, financia este Fundo).

A história verdadeira parece ser outra e radicalmente oposta. Depois de decretada a falência do BES em 2014 o Novo Banco (ou Banco bom) ficou nas mãos do Estado português e foi gerido em seu nome pelo Banco de Portugal até ser vendido.

Não estava fácil encontrar compradores para o NB pelo que o Estado português, dono do Novo Banco, decidiu sobrevalorizar (ou aceitar a sobrevalorização que eventualmente já vinha de trás) de certos activos do NB, a fim de o tornar mais atraente  aos olhos dos compradores potenciais.

Um comprador - como o fundo americano Lone Star - que compra um banco com a dimensão do NB não tem a possibilidade de auditar todos os seus activos um a um. Fá-lo por amostragem e estima uma certa percentagem de sobrevalorização. Foi por esta percentagem de sobrevalorização que o Estado se comprometeu a indemnizar o Lone Star no contrato que veio a ser assinado em finais de 2017.

Quer dizer,

(i) Os imóveis não foram vendidos abaixo do preço do mercado. Os imóveis foram vendidos ao preço do mercado, só que estavam sobrevalorizados na contabilidade do NB.

(ii) O Estado português não é nada a vítima de todo este negócio dos imóveis. O Estado português é o chico-esperto que quis enganar o Lone Star e que está agora, através do Fundo de Resolução, a indemnizar o Lone Star pelo montante em que o quis enganar.


Nota: Acerca da sobrevalorização dos activos do NB aquando da sua venda ao fundo Lone Star, ver este artigo da época: cf. aqui.

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