17 julho 2020

Até um padre

Padre Avelino Alves: "Ninguém por mais omnipotente que seja consegue gerir um império daqueles sozinho" (cf. aqui)

Até um padre sabe isto.

A parte mais hollywoodesca da acusação é precisamente aquela, que se desenha logo desde o início, em que se pessoaliza em Ricardo Salgado a gestão do grupo GES. Como se fosse possível a um homem só, ajudado por meia dúzia de homens e mulheres de mão, gerir lá de cima, a partir do alto, um grupo económico daquela dimensão com interesses em variadíssimos lugares do mundo e com dezenas de milhar de colaboradores.

É também a parte em que se manifesta de modo mais exuberante a cultura atávica que prevalece no sistema de justiça em que tudo aquilo que acontece tem de ter uma causa pessoal, em última instância, uma bruxa. A acusação do Ministério Público é sobretudo isso - uma caça às bruxas -, uma tentativa de pessoalizar aquilo que foi um processo largamente impessoal.

Quem atirou o BES à falência não foi o Ricardo Salgado, sozinho ou com os seus capangas.

Foi o mercado.

E quem lhe deu a estocada final também não foi o Ricardo Salgado. Foi o Governo da altura naquele que foi, na minha opinião, o mais colossal erro de política económica da democracia portuguesa - deixar cair um Banco daquela dimensão.

Finalmente, é revoltante ver uns tipos e umas tipas (cf. aqui), uma verdadeira cambada de irresponsáveis que, protegidos por um regime de imunidade,  não assumem a mínima responsabilidade pelos erros que cometem no exercício da sua profissão - que são muito frequentes e danosos -, atirarem-se, assanhados, ao Ricardo Salgado para lhe exigirem responsabilidades criminais pelos erros que ele cometeu, e também pelos que não cometeu, no exercício da dele.

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