12 abril 2020

CORON - LEÃO ESPALHA TERROR EM MYRA


PÁSCOA 2020

Conto de confinamento





Era uma vez uma tribo de indígenas que vivia numa aldeia chamada Myra.

Myra tinha uma localização maravilhosa, num monte próximo do mar, com floresta e caça abundante.

Os indígenas de Myra desfrutavam de uma caverna muito ampla, com uma entrada camuflada pela vegetação, onde viviam protegidos das tempestades e dos predadores.

Quando saíam à caça, liderados pelo chefe Telo, o mais velho da tribo, procuravam sobretudo abater auroques, bois selvagens muito corpulentos e que davam para alimentar a tribo durante bastante tempo.

Na caverna, o Telo desenhava os auroques nas paredes e no teto, com tanto detalhe e perfeição que todos ficavam inspirados e com grande confiança no futuro. ‹‹Enquanto houver auroques em Myra o futuro é nosso›› – pensavam.




Até que um dia apareceu em Myra um leão gigantesco, a que chamaram Coron por ter uma juba enorme que lhe adornava a cabeça como uma coroa. O Coron também caçava os auroques que cedo fugiram para longe para escapar às garras e aos dentes do Coron.

Sem caça grossa por perto, o Coron começou a rondar a caverna da nossa tribo de Myra, espalhando o pânico e impedindo os indígenas de sair.




A tribo reuniu-se, com todos em pânico, para debater como reagir ao Coron. Telo foi o primeiro a falar:

-      Temos de ficar aqui confinados até o Coron debandar – disse.

Telo já tinha quase 40 anos, algumas sequelas físicas, e seria certamente uma presa fácil para um animal tão ágil e feroz como o Coron.

-      Mas se não arriscarmos morremos aqui à fome – contrariou Taz.

Taz era bastante mais jovem, com cerca de 30 anos e um porte atlético, em melhores condições físicas do que Taz para confrontar quaisquer perigos. Depois sentia o apoio da Magda, a mulher, e a responsabilidade pela Miski que ainda nem sequer tinha completado 1 ano de idade.

-      O que achas Magda? – perguntou Taz.

Magda era uma líder nata, respeitada por todos e tão conhecedora dos recursos naturais de Myra como o Telo.

-      Não podemos sobreviver sem assumir riscos – disse. Tudo o que nos rodeia é nosso, foi-nos dado por Deus para desfrutarmos e não podemos entregar esse privilégio a uma besta como o Coron. Nem ficar prisioneiros do pânico...

Depois de muito refletirem e discutirem ficou decidido que na manhã seguinte Taz sairia de novo à caça, chefiando um grupo de caçadores.




Ao raiar do Sol, Taz partiu à procura de auroques, mas Telo decidiu ficar resguardado na caverna, com as mulheres e as crianças, convencido de que o risco de sair era muito superior ao risco de continuar o confinamento por mais algum tempo.

Eis senão quando se ouve na caverna um rugido infernal, Coron tinha conseguido entrar e estava agora no refúgio sagrado da tribo, com fogo nos olhos e trovões a brotarem-lhe da garganta. Telo levantou-se meio trôpego, mas foi imediatamente dominado pela fera que o abocanhou e arrastou para fora da caverna.

O susto foi tão grande que toda a tribo ficou aterrorizada a um canto, à espera de nova investida, que felizmente não ocorreu.

No dia seguinte Taz regressou eufórico, com um auroque já esquartejado. Estava garantida a sobrevivência da tribo. Ao chegar à caverna, porém, constatou que o Coron jazia morto à entrada, com restos do corpo de Telo ainda visíveis.

Magda e Miski receberam-no eufóricas.

-      Estávamos cheias de medo, mas já passou – confessou Magda.

A tribo comeu, dançou e depois reuniu-se à volta do fogo para ouvir Taz fazer o relato da caçada. No dia seguinte enterraram os restos do Coron e do Telo e rezaram ao Sol, na praia de Myra.

Magda era agora a chefe incontestada da tribo. Sabia avaliar riscos e decidir o melhor plano de ação a cada momento. Como costumava dizer:

-      Parar é morrer!


FIM



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