27 março 2020

a radical imprevidência

O ministro holandês das finanças não compreende como é que a Espanha e a Itália, depois de vários anos de crescimento económico, não têm provisão orçamental para fazer face à crise do coronavírus.

O primeiro-ministro português saiu em defesa da Espanha e da Itália qualificando de "repugnantes" as afirmações do ministro holandês (cf. aqui).

Estamos aqui perante um choque de culturas em que o diálogo se torna facilmente um diálogo de surdos - o primeiro-ministro português representando a cultura católica do sul da Europa e o ministro holandês a cultura protestante do norte.

A cultura católica valoriza mais o presente e o passado. A cultura protestante valoriza mais o futuro.

Os povos de cultura católica gastam facilmente aquilo que têm sem pensar no futuro. Os povos de cultura protestante levam uma vida mais austera no presente e poupam a pensar nas incertezas do futuro.

Os católicos têm um Papá e uma Mamã a quem recorrer em caso de dificuldades. No protestantismo não há Papa nem Nossa Senhora, cada um tem de contar apenas consigo próprio.

Nos países protestantes, as pessoas fazem-se à vida aos 18 anos, quando atingem a maioridade. Nos países católicos, aos 35 anos de idade, metade delas ainda vive em casa dos pais.

O ministro holandês insurge-se, portanto, contra a radical imprevidência dos países católicos. O primeiro-ministro português, interpretando a cultura católica dos países latinos, queixa-se que a Mamã União Europeia está a ser muito má porque não lhes dá o dinheiro que eles imprevidentemente gastaram e que agora lhes faz muita falta para atender à crise.

Maus, estes holandeses e alemães!

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