10 setembro 2019

não um, mas dois

Um partido liberal, como a jovem Iniciativa Liberal, para se conseguir afirmar num país de tradição católica como é Portugal, encontra não um, mas dois poderosos adversários - o catolicismo e o socialismo. O caminho não é fácil.

A constatação de que o pensamento social católico e o socialismo são coincidentes em muitos pontos não é uma constatação nova. Já em 1931, na Encíclica Quadragesimo Anno, destinada a celebrar o quadragésimo aniversário da Rerum Novarum, o Papa Pio XI tinha dado conta dela quando escreveu.

"Dir-se-ia que o socialismo tende para as verdades que a tradição cristã solenemente sempre ensinou, e delas em certa maneira se aproxima. É inegável que as suas reivindicações concordam às vezes muitíssimo com as reclamações dos católicos que trabalham na reforma social".

É certamente uma ironia que o socialismo, que deriva do luteranismo, - uma teologia protestante muito mais agressiva do catolicismo do que o calvinismo - encontre na esfera social muito mais semelhanças com o catolicismo do que o liberalismo.

Em particular:

(i) A teoria da pobreza é a mesma no socialismo e no catolicismo. A pobreza dos pobres (proletários) é causada pelos ricos (capitalistas) que se apropriam indevidamente do quinhão que pertence aos pobres.

(ii) O ênfase que ambos põem na distribuição da riqueza, em detrimento da produção. A Igreja apela aos ricos para que repartam a sua riqueza voluntariamente com os pobres através da caridade. Mas, não chegando o apelo, o socialismo dá o passo lógico seguinte - "Se não vai a bem, vai a mal..." - e põe a força do Estado a obrigar os ricos a fazê-lo.

(iii) A supremacia que ambos reconhecem à comunidade (ou sociedade, no léxico socialista) sobre o indívíduo.

(iv) A importância que ambos dão ao Estado e ao poder político para conduzir superiormente a economia. O catolicismo fá-lo em nome do "bem comum", o socialismo em nome da "justiça social".

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