-Será que eles se conhecem?
Esta foi a questão que, desde a primeira sessão, eu me pus em relação àqueles dois homens sentados à minha frente na tribuna, a cerca de cinco metros de distância, um à direita do outro, mas com um espaço suficiente entre eles para darem a aparência de serem independentes um do outro.
Um era o juiz, o outro era o acusador oficial, o magistrado X.
Desde o primeiro momento me pareceu uma injustiça haver dois acusadores e uma só defensora, ainda por cima um dos acusadores tinha honras especiais, sentava-se à direita do juiz e retirava-se para a mesma sala do juiz durante os intervalos do julgamento.
-Como é que este juiz pode ser imparcial se ele anda sempre acompanhado de um acusador - o acusador oficial que tem quase as mesmas honras que ele?
perguntava-me eu.
E eu próprio respondia: Não pode.
Eu precisava de mais indícios para provar aquilo que parecia óbvio ao meu espírito, a saber, que dificilmente um juiz nestas condições pode ser imparcial. Até que ponto iria a intimidade entre ele e o magistrado X?
-Eles devem-se conhecer…
Sentado no banco dos réus, eu escrutinava ao detalhe todas as comunicações entre o juiz e o magistrado X à procura do mais ínfimo sinal que confirmasse as minhas suspeitas.
E ele acabou por chegar à quarta ou quinta sessão.
No final da sessão, o juiz puxou da agenda para marcar a sessão seguinte, e virando-se para a direita, sugeriu ao magistrado X uma data.
Mas antes que o magistrado X pudesse responder, foi o próprio juiz que se antecipou:
-Oh...desculpe...essa data não pode ser porque já temos outro julgamento marcado para esse dia.
É muito difícil um juiz conseguir ser imparcial nestas condições, quando o acusador oficial é um seu colega de trabalho. O ideal de Justiça fica prostituído.
Sem comentários:
Enviar um comentário