16 maio 2019

mais importância

Pode por favor explicar, na sua opinião, qual é a diferença entre um católico fundamentalista e um católico não fundamentalista?
Francisco (caixa de comentários em baixo)

Católico fundamentalista é aquele que dá mais importância à doutrina da Igreja do que às pessoas que essa doutrina é suposta servir. É o tipo que, pela doutrina, é capaz de penalizar e sacrificar o seu semelhante e, no limite, matá-lo. É um sectário, que é exactamente o oposto de ser católico. O inquisidor é a figura paradigmática do católico fundamentalista. Ainda existem alguns por aí.

2 comentários:

francisco disse...

Dependendo da forma como se considera que a doutrina «serve» a pessoa podemos ou não considerar alguém fundamentalista. Do ponto de vista católico o «servir» não é apenas ajudar a pessoa a ter uma vida feliz material e espiritualmente, é antes sim para ajudar a pessoa a que conheça, ame e sirva a Deus, viva na graça de Deus com Fé e na prática das boas obras e assim salve a sua alma alcançando a bem-aventurança eterna. Por isso, principalmente se formos cardeais, bispos, padres, muitas vezes teremos de ser um sinal de contradição, de dizer ao mundo que está errado.

De facto a doutrina não é um conjunto de regras a cumprir e no caso de não cumprir leva-se com um castigo, isso é seguir a lógica dos fariseus, a doutrina é um conjunto de regras e explicações simples que nos ajudam a seguir um caminho e alcançar o fim que indiquei acima.
Chesterton, no livro Hereges, faz uma observação interessante aos católicos liberais quando estes promovem um amor sem doutrina. Chesterton lembra que em qualquer lugar onde existem regras simples isso é uma ajuda para os pobres, os simples, para quem não tem voz, enquanto lugares onde não existem essas regras servem apenas os interesses dos poderosos. Como liberal que defende um estado mais simples e transparente penso que compreende esta ideia, só com o amor e sem estas regras simples era como se tivéssemos um governo onde os familiares se nomeiam uns aos outros, é só amor.

Pegando no exemplo do aborto, para um católico fundamentalista basta que o estado tenha uma lei que criminalize o aborto, enquanto um não fundamentalista quer que as famílias durante e depois da gravidez tenham o apoio necessário para que o aborto não seja uma escolha, que exista um ensino da moral que mostre de que forma o aborto é errado e como o católico é-o em comunidade a lei do estado que criminalize o aborto deve vir da Fé da comunidade.

Só duas questões, se me permite, para compreender melhor:
Concorda com a forma que indiquei em que a doutrina serve a pessoa?

No sentido fundamentalista que indicou, no caso liberal e no caso do aborto, não se está a ser fundamentalista quando se promove a liberdade de escolha (se aborta ou não), em que por uma ideia tal de liberdade se condena à morte uma criança que está na barriga da mãe?

name disse...

Católico fundamentalista é coisa que não pode existir partindo do conceito recente da palavra «fundamentalista». Conceito que, agora, o misceniza com totalitarismo.

A inexistência deve-se a serem predicados humanos incompatíveis e até antagónicos, num significado, numa óptica recente, como acima escrevi.

Fundamentalista (antes de haver «fundamentalistas») é pessoa que professa um ideário. Que vive e que sente uma ideia e que, quando necessário, a defende, bem apoiado em bases lógicas, em fundamentos, gerados pelos seus valores pessoais.

Aos «fundamentalistas» modernos interessa, sobremaneira, induzir noutros o seu ideário e obrigá-los a aceitar as suas ideias.

O cristão não impõe as suas ideias, as suas crenças. Podendo mesmo detestar algumas ideias d'outrém, não é próprio dele destruí-las. Sabe que a mentira e a falsidade não persistem por muito tempo, mesmo se não lutar contra elas. Mas deve lutar contra a mentira e a falsidade mercê da sua cultura pela Verdade.

"O que distingue o totalitarismo não é a certeza, mas a decisão de impor a certeza aos outros. O passo do fundamentalismo é este. É querer forçar o outro, é impor ao outro. Quando não se distinguem bem as coisas — quando se começa por identificar o fundamentalismo com a certeza — trata-se por igual uma convicção de fé e o fundamentalismo propriamente dito." (Padre João Seabra, 2001)