15 fevereiro 2019

Tocqueville-Acton

O economista Friedrich Hayek é, provavel e merecidamente, a maior referência do pensamento liberal do último século. É natural, por isso, que a Iniciativa Liberal (cf. aqui) o venha a tomar como uma referência teórica.

Eu gostaria, no decurso dos próximos dias, de fazer algumas observações acerca de alguns episódios da vida do Hayek que podem sugerir que o liberalismo que o Hayek perfilhava nem sempre é coincidente com aquele que ele exprimia em público nos seus livro.

Começo com um episódio que suponho, em tempos, já ter referido neste blogue.

Quando, no final da II Guerra Mundial, vários intelectuais se reuniram numa montanha da Suíça para constituírem uma associação destinada a propagar os valores do liberalismo, o Hayek esteve presente, como não podia deixar de ser. Ele era já nessa altura o autor do best-seller "O Caminho da Servidão".

Chegado o momento de dar o nome à associação, Hayek propôs "Tocqueville-Acton Society", em homenagem àqueles que ele considerava serem os dois maiores nomes da história do pensamento liberal moderno.

A proposta não venceu porque teve dois opositores de peso. Frank Knight, que foi o fundador da Escola liberal de Chicago,  rejeitou-a sob o argumento que não queria dar à nova associação o nome de dois aristocratas católicos. Ludwig von Mises fez o mesmo por causa dos "erros" que Tocqueville e Acton tinham cometido nas suas obras (cf. aqui).

Cabe acrescentar que Frank Knight, apesar de nascido numa família cristã protestante era ateu e um sério adversário da religião organizada, especialmente do catolicismo. Quanto a von Mises, era judeu.

A associação acabou por receber o nome da montanha onde os intelectuais se reuniram - Mont Pélérin Society.

A conclusão a que pretendo chegar é a de que Hayek, que é hoje a principal referência do pensamento liberal moderno, tinha ele próprio como referências do liberalismo dois autores católicos - Alexis de Tocqueville e Lord Acton.

E a pergunta que quero deixar é a seguinte: existirá um liberalismo católico - de que seriam exemplos Tocqueville, Acton e, até certo ponto, o próprio Hayek -, e um outro que se poderia definir como judaico-protestante, e que corresponde à versão corrente do liberalismo moderno?

É que se existem duas versões do liberalismo, cada uma adaptada à sua cultura, a segunda não vai vingar em Portugal.



1 comentário:

José Lopes da Silva disse...

(Eu estou pelos lados do Popper e da sua Sociedade Aberta.)