A justiça tem sido o objecto de grandes discussões abstractas, mas é algo de bem concreto, embora nem sempre facilmente atingível - é "dar o seu a seu dono" e corresponde a um desejo que é universal no homem, o de reclamar para si aquilo que lhe é devido.
O paradigma de Salomão ilustra tudo aquilo que há de essencial na justiça.
Primeiro, a injustiça. Só quem sente a injustiça reclama por justiça, só quem conhece o mal pode reinvindicar o bem. Eu não estou certo que a história revele qual das duas mulheres foi ter com Salomão. Mas só pode ter sido a verdadeira mãe da criança.
Segundo, a verdade. Só depois de saber quem era a verdadeira mãe da criança é que Salomão pôde fazer justiça, dando o seu a seu dono.
Terceiro, a sabedoria. Eu não estou certo de que Salomão fosse um grande letrado em leis. Aquilo que ele tinha era um grande conhecimento humano.
É curioso que o fundador da moderna ciência do Direito (Kant) fosse um homem exactamente oposto. Tinha um grande conhecimento de leis, mas nenhum conhecimento humano. Era um intelectual absolutamente retirado do mundo, na realidade, com medo do mundo.
Quarto, a autoridade. É preciso autoridade para fazer valer a sentença.
1 comentário:
Não gosto deste papel... mas aí vai, de Aristóteles:
• A lei é ordem; e uma boa lei é uma boa ordem.
• ... o segundo [procedimento próprio do tirano que lhe assegura a manutenção no poder] consiste em semear a desconfiança entre os súbditos (a tirania não é derrubada até ao momento em que os cidadãos passam a confiar em si mesmos); é por isso que os tiranos movem constantes ataques contra os cidadãos respeitáveis: consideram-nos perigosos para o seu poder não só pela recusa em submeter-se a um poder despótico, mas também pela confiança que mantêm entre si ou que inspiram nos demais ... in Política, 11, 1314 a 18-21
Abraço doea
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