Eu posso ter exagerado no post anterior quando disse que despertei de uma certa sonolência a fazer uma conta de cabeça enquanto a Dra. Maria José Barros falava. É que, contas de cabeça, eu consigo fazê-las até a dormir. Já digerir uma afirmação, ainda por cima repetida, feita com plena convicção, e cheia de crueldade, é que é mais difícil.
Aconteceu a meio do depoimento da Dra. Maria José Barros.
Ela tinha acabado de elogiar muito o Dr. Paulo Rangel, a sociedade Cuatrecasas e a altíssima qualidade dos seus profissionais. E foi então que referindo-se a todos eles, e ao período em que fora administradora do HSJ, e falando no plural, afirmou perentoriamente:
-Sim... porque nós só contratávamos os melhores!...
Foi aí que eu senti um abalo:
-Os melhores!?...
Mas antes que eu pudesse acalmar a minha estupefacção, ela voltou a dizer:
-Nós só contratávamos os melhores!...
E eu, no silêncio a que está condenado o réu:
-Os melhores!?...
Era a expressão "os melhores" que me incomodava. E não tinha nada que ver com a reputação da Cuatrecasas - ou de quaisquer outros prestadores de serviços do HSJ -, porque eu até admito que ela, e os seus pares, considerassem os advogados da Cuatrecasas os melhores e lhes pagassem como se paga aos melhores.
Aquilo que me desconcertava é que a profunda convicção da Dra. Maria José Barros, salpicada de um certo orgulho, de que só contratava os melhores, não tinha correspondência na qualidade dos serviços que ela prestava aos doentes que estavam à sua guarda, enquanto administradora do HSJ.
Esses não eram seguramente "os melhores".
Que o dissessem as crianças que já então estavam internadas em contentores metálicos há anos.
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