O Supremo Tribunal em Espanha está a trabalhar a toda a pressa para libertar os dirigentes catalães presos há três semanas, e fazer regressar do exílio aqueles que lá se encontram.
A primeira vítima da crise catalã é a Justiça espanhola: acusa pessoas de crimes gravíssimos, prende-os preventivamente, para poucas semanas depois os desprender. Não é nada que surpreenda os espanhóis, que têm tanta confiança na sua Justiça como os portugueses.
A crise catalã veio também exibir a ausência de uma cultura democrática em Espanha, pondo em comparação a maneira como o Reino Unido tratou o independentismo na Escócia e a maneira como a Espanha está a lidar com ele na Catalunha.
O Reino Unido deixou que os escoceses se pronunciassem livremente em referendo sobre o seu destino. A Espanha tem impedido por todos os meios que os catalães façam o mesmo.
A cultura democrática - para além de uma opinião pública forte e contundente, a que me tenho vindo a referir - tem outra característica. É uma cultura separatista ou divisionista como os espanhóis só agora estão a aprender. No centro da cultura democrática moderna está uma instituição cuja característica divisionista ou separatista está no próprio nome - o partido.
Quando o antigo bloco soviético se desmoronou no início da década de 90, e as ditaduras comunistas deram lugar à democracia partidária, o separatismo independentista foi aquilo que se seguiu. A URSS deu lugar a vários Estados nacionais e independentes. O mesmo aconteceu na Checoslováquia e na Jugoslávia.
A democracia partidária parte, sobretudo onde já existiam fracturas antigas, como é o caso da Catalunha.
Carles Puigdemont, o ex-presidente catalão no exílio, declarou recentemente que as eleições do próxino dia 21 de Dezembro na Catalunha são as eleições do século em Espanha .porque condicionarão o futuro de Espanha (e da Península Ibérica - acrescento eu) para os próximos cem anos.
Regime democrático ou Regime autoritário - qual prevalecerá?
É este o significado das eleições de 21-D e daquilo que se lhes vai seguir.
Para a União Europeia, qualquer dos resultados é embaraçoso. Se prevalece a democracia e a Catalunha, é o próprio projecto da união da Europa que está em causa. Mas se prevalece o autoritarismo e Madrid, como é que os países democráticos da UE vão conviver com um dos seus membros - a Espanha - que não dá liberdade sequer a uma fracção significativa da sua população para se pronunciar sobre o seu próprio destino?
A crise na Catalunha, para além das suas consequências internas, pode marcar também o princípio do fim do projecto europeu. Por isso, os dirigentes europeus assistem embaraçados ao que se passa em Espanha. Não sabem o que dizer.
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