03 setembro 2017

Lisboa

A mudança de Governo fez o Joãozinho perder um dos seus grandes amigos - o secretário de Estado da Saúde, Dr. Manuel Teixeira. A carta que eu enviara à administração do HSJ a pedir a cedência do espaço para o Continente e que lhe deveria ter sido remetida nunca lhe chegou às mãos. O professor António Ferreira desinteressou-se do assunto e estava agora mais preocupado com o futuro da sua carreira política em Lisboa.

Há muito que eu percebera que ele tinha ambições políticas, e que se comportava como um verdadeiro político. Mas sempre me pareceu, e várias vezes exteriorizei junto dos mais próximos, que ele não passaria em Lisboa. E foi isso que aconteceu. Não durou lá dois meses.

Existem certas figuras do norte que não passam em Lisboa, e o professor António Ferreira parecia-me claramente uma delas. O paradigma para mim era o antigo presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, que eu meses antes voltara a encontrar como director financeiro do F. C. Porto. Tinha sido um excelente e muito popular presidente de Câmara.

Abandonou a Câmara para ir para Lisboa para ministro da Administração Interna do Governo de António Guterres. Não durou lá três meses. Quando regressou e se candidatou de novo à Câmara, apanhou uma derrota estrondosa. Outro caso era o do meu antigo colega de Faculdade, professor Daniel Bessa. Durou muito pouco tempo como ministro da Economia do mesmo Governo.

Lisboa é a cidade mais cosmopolita e aberta do país, mas há figuras do norte que não passam lá. Muito mais difícil, claro, é a inversa, uma figura de Lisboa entrar no Porto, que é uma cidade muito mais fechada, e onde só lá entra quem os que são de lá deixam entrar.

Quando um dia me convidaram para ser candidato à presidência da Câmara do Porto, abanei logo a cabeça - na horizontal, bem entendido. Uma impossibilidade prática, ainda hoje. Já um portuense ser presidente da Câmara de Lisboa é provável e até possível - como hoje se pode ver.

Eu tinha agora de recomeçar todo o processo do Joãozinho junto da nova equipa do Ministério da Saúde. Escolhi o secretário de estado Adjunto e da Saúde, professor Fernando Araújo, que era do HSJ, e pedi um reunião com ele. Recebi de volta a resposta que o assunto era tratado pelo secretário de Estado da Saúde, Dr. Manuel Delgado.

No final de Março, eu estava de volta ao Ministério da Saúde para ser recebido muito atenciosamente pelo Dr. Manuel Delgado e pelo seu chefe de gabinete, Dr. Jorge Poole da Costa.  Para além de lhe contar toda a história do Joãozinho  e entregar-lhe toda a documentação que, de resto, estava na posse do Ministério, levava dois pontos na agenda.

Primeiro, pedir-lhe que o Ministério da Saúde desse ordens à administração do HSJ para que cumprisse o protocolo que assinou e desimpedisse o espaço a fim de que a Associação pudesse prosseguir a obra. Segundo, reactivar o Dossier Continente que tinha ficado encalhado no HSJ com a mudança de Governo e da administração do Hospital

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