28 julho 2017

piratas

Conheço o Júlio Magalhães há trinta anos. Ele estava no início da carreira e fazia as notícias da manhã na RTP-Porto. À Sexta-feira, eu juntava-me a ele para fazer um comentário de Economia.

Depois, o Juca foi para Lisboa, onde se tornou famoso. Eu fiquei no Porto, e também me tornei famoso, embora por razões diferentes. Durante este período, fomo-nos encontrando ocasionalmente.

Quando o Juca regressou ao Porto para assumir a direcção do Porto Canal, convidou-me para comentador. Disse-lhe que não. Há muito que estava retirado dessas lides e não tinha saudades.

Um ano depois, o Juca insistiu. Eu tinha, então,  acabado de lançar um livro e estava a iniciar a obra do Joãozinho. A exposição mediática ajudar-me-ia a angariar mecenas, pois a obra tinha um valor de monta: 20 milhões de euros (mais IVA).

Não queria dinheiro nenhum do Porto Canal (*), apenas que o Juca aceitasse uma condição, a saber - que, nos primeiros comentários, eu pudesse tratar os temas contidos no meu livro, e pudesse levar o livro para o estúdio (as receitas do livro revertem a favor da obra do Joãozinho)

O livro tem o título "F. - Portugal é uma Figura de Mulher" (Guerra e Paz: Lisboa, 2013) e é dedicado à minha neta Francisca, a primeira dentre os meus seis netos (sete, contando agora com o Sétimo) e é, na realidade, uma colectânea de posts inicialmente publicados no Portugal Contemporâneo.

A propósito de uma pergunta que ela - na altura com três anos e muito amedrontada - me colocou acerca de piratas, eu acabei a desenvolver o tema distinguindo entre piratas bons e piratas maus. E um dos pontos mais altos do livro ocorre precisamente quando eu lhe explico como é que os piratas bons às vezes se transformam em piratas maus.

É no capítulo que tem o título "A Fazerem de Piratas Maus" (pp. 202 e segs.). Neste capítulo, eu imagino-me  a levá-la comigo a um Tribunal para lhe mostrar, em concreto, como se dá essa transformação, como é que pessoas que, na sua vida privada, são pessoas decentes (piratas bons),  ao porem as suas vestes de funcionários públicos [da Justiça, no caso] frequentemente se comportam como uns verdadeiros patifes (piratas maus)

[A pergunta que deixei em aberto num post anterior encontra a resposta neste capítulo do livro.]

E foi assim que, falando de piratas bons e de piratas maus, eu iniciei a minha série de comentários no Porto Canal sobre a vida pública em Portugal. Em breve descobriria que o pior coio de piratas maus do país era o Ministério Público. E assim fui também comentando, semana após semana.

E foi assim ainda que - ironicamente, tendo o Juca pela frente e referindo-me a agentes da Justiça - eu produziria o comentário que me levaria a Tribunal - onde eu já tinha estado, mas só em imaginação, acompanhado da minha neta Francisca.


(*) Em breve, o Porto Canal, ele próprio, se tornaria um mecenas da obra do Joãozinho.

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