28 junho 2017

no banco dos réus

Esta semana tive uma experiência que nunca tinha tido na vida.

Estive toda a manhã de Segunda-feira no banco dos réus do Tribunal de Matosinhos.

Compareci perante uma juíza de instrução criminal, um magistrado do Ministério Público, dois advogados (um de defesa, outro de acusação) e ainda um escrivão.

Local do Crime: Porto Canal.

Crimes imputados: ofensas à honra

Acusações: Três, movidas respectivamente por Paulo Rangel, eurodeputado e advogado; pela sociedade de advogados Cuatrecasas (de que o primeiro era director à altura); e, ainda, pelo Ministério Público.

A juíza vai agora decidir se vou a julgamento ou não.

A parte que mais gratamente relembro do meu depoimento, que durou mais de duas horas, foi aquela em que referi o exemplo que esta cena representaria para as gerações futuras.

Eu gosto de imaginar um jovem - como todos nós já fomos - a observar-nos naquela situação. Acompanhado de uma pessoa madura que se mantém silenciosa. O jovem a enumerar todos os males que encontra neste mundo, e a exprimir todos os sonhos de um dia o vir a mudar para melhor - sonhos como todos nós já tivemos, uns que se realizaram, outros não. A condenar o egoísmo que reina no mundo e a necessidade de modificarmos os nossos comportamentos e de fazermos bem aos outros. E isto sempre perante o silêncio do adulto.

Só depois de muito tempo, e quando o jovem fala pela sétima vez em fazer bem aos outros, é que o adulto o interrompe para lhe dizer:

-Fazer bem aos outros!? ...Deixa-te disso, pá!....

E, perante o ar incrédulo do jovem, acrescenta:

-Estás a ver aquele ali, o que está sentado no banco dos réus?.... Ele também anda a fazer bem aos outros...

E a concluír:

-Tu ainda tens desculpa porque és um puto... Agora aquele já tem idade para ter juízo... tão cristão, tão cristão... e afinal não aprendeu nada com o exemplo de Cristo...

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