10 fevereiro 2017

O Chiquinho

Tenho estado a pensar
No dia em que o Chiquinho nasceu.
Há quem diga que foi um acaso,
Um acaso ele ter nascido naquele dia.
Mas, se é assim, houve outros acasos
Naquele dia e num curto espaço de tempo.

A maminha da mãe do Chiquinho deu leite,
Naquele mesmo dia.
Nunca tinha dado leite.
Deu pela primeira vez naquele dia.
Por acaso.
Podia ter sido quinze meses mais tarde.

E não é que o Chiquinho gostou?
Que acaso o Chiquinho gostar do leite!
Podia não ter gostado.

Mas o mais desconcertante
É ainda outro acaso.
O Chiquinho sabia mamar!
Sabia fazer os movimentos de sucção
Na maminha da mãe.
Ninguém lhe ensinou.
Mas o Chiquinho sabia.
O Chiquinho nasceu ensinado.

Tantos acasos em tão pouco tempo...
Não serão acasos a mais?
E todos na mesma direcção,
Favoráveis ao Chiquinho?
É que o acaso é aleatório,
Tanto lhe dá para o bem como para o mal.
Mas estes acasos
São todos para o bem do Chiquinho.

Não será mais racional acreditar
Que Alguém determinou:
"Chiquinho, vou-te dar vida no dia tal";
"E vou dar leite à maminha da tua mãe";
"E vou-te ensinar a mamar";
"E tu vais gostar"?

Para mim é.



5 comentários:

José Lopes da Silva disse...

E mais sorte ainda se Alguém não tiver feito do Chiquinho maricas.

Pedro Sá disse...

Esqueça a racionalidade. Mesmo.

marina disse...

racional , raconal mesmo , era ter feito um chiquinho que não precisasse de comer...sem cadeia alimentar o mundo era muito mais pacífico e sossegado.

Ricciardi disse...

Será por acaso que o computador com o software deep blue ganhou umas partidas ao Kasparov?
.
Não, não é por acaso. O Deus da máquina foi um programador humano que conhecemos bem, é visível e até se pode falar com ele. Conhecemos até parte do código de programação.
.
O Programador do chiquinho ninguém o conhece, nem falou com ele, mas deve existir. Intui-se que exista. O mais provável é que exista. Não se sabe porém se é aquele descrito nas religiões.
.
Rb

Ricardo Sebastião disse...

Sobre a probabilidade extremamente baixa da coincidência, o matemático John Allen Paulos, no seu livro “Inumerismo: o analfabetismo matemático e suas consequências”, alerta contra conclusões baseadas em probabilidades depois do evento acontecido.
Segundo ele, a improbabilidade não é necessariamente prova de qualquer coisa: quando você recebe uma mão de cartas de bridge de 13 cartas, a probabilidade de ter recebido aquela mão específica é de uma em 600 bilhões, uma probabilidade extremamente baixa, mas seria absurdo concluir que aquela mão não deveria ter sido distribuída por que é extremamente improvável.